Não adianta chantagear, Papa Francisco não está à venda!

Por Walmyr Junior*

Ele tem o pobre como centro do seu ministério pontifício, está construindo uma grande ponte de conciliação política entre Cuba e os EUA, fez duras críticas aos exageros da tão dita ‘Liberdade de expressão’, construiu uma rede de amplo apoio aos movimentos sociais, está construindo um forte dialogo com a comunidade internacional de LGBTs, tem dado apoio incondicional às juventudes e tem a caridade como linha paradigmática de transformação social deste mundo desigual em que vivemos.

Recém-indicado para concorrer ao prêmio Nobel da Paz, Cardeal Bergoglio, hoje conhecido mundialmente como Papa Francisco, tem sido alvo de críticas e chantagens para recuar no seu discurso libertador e ‘revolucionário’ de sociedade.

Com seu jeito simples e solidário, Francisco vem reinscrevendo a história da Igreja com seu discurso e sua prática. Fazia tempo que na história da Igreja não se discutia sobre a segunda união matrimonial, a homossexualidade e, acima de tudo, sobre o sistema que oprime e faz com que a pobreza e a miséria só aumentem no mundo, sistema esse denominado capitalismo.

Lembro-me bem de uma das frases do Santo Padre durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no Rio de Janeiro em 2013, quando se referia a igualdade social. Seu apelo era apenas para que tenhamos um pouco de sensibilidade e solidariedade, coisa que anda faltando nos dias atuais. Dizia ele:  “Ninguém deve se manter insensível em relação à desigualdade que enfrentamos”.

A reação dos que mantêm esse sistema desigual já era prevista. Tendo em vista o incômodo que o combate ao capitalismo covarde gera, podemos analisar que o Papa Francisco está quebrando certos paradigmas e centralizando as demandas da urgente igualdade social. Isso incomoda tanto os reacionários detentores de privilégios que tais sujeitos fazem questão de ameaçar a Igreja com seus discursos conservadores.

Ainda esta semana foram veiculados na internet os espúrios do bilionário Kenneth Langone, fundador da HomeDepot, empresa varejista norte-americana de produtos para casa, ameaçando o Papa por seu enfrentamento radical ao capitalismo. Este senhor teve a audácia de enviar um aviso ao Papa Francisco durante uma entrevista no canal CNBC. Na reportagem o empresário ameaçou cortar as doações que faz à Igreja e alegava que “pessoas como ele estão se sentindo ofendidas com as mensagens do Vaticano em apoio aos mais pobres”.

Tal discurso é cômico, porém é trágico. Quando recentemente Francisco falou sobre a economia e a justiça social e definia que “Temos de construir uma economia na qual o bem das pessoas, e não o dinheiro, seja o centro”.  O Papa, ao falar desta forma, nos dava uma linha de reflexão que leva a Igreja para o centro da disputa ideológica do modelo de sociedade que queremos.

Encerro este artigo trazendo um breve parágrafo de uma recente entrevista que Francisco definia bem o que é ter os “pobres carne de Cristo” como centro do seu ministério, resposta essa ao acusarem seu comportamento de “pauperista”.

“O pauperismo é uma caricatura do Evangelho e da própria pobreza. Ao contrário, São Francisco nos ajudou a descobrir o vínculo profundo que existe entre a pobreza e o caminho evangélico. Jesus afirma que não se pode servir a ambos, a Deus e às riquezas. É pauperismo? A pobreza evita idolatria, o sentir-se autossuficiente. Zaqueu, depois de ter cruzado com o olhar misericordioso de Jesus, deu a metade do que tinha aos pobres. A mensagem do Evangelho é dirigida a todos. O Evangelho não condena os ricos, mas sim a idolatria da riqueza, essa idolatria que nos torna insensíveis aos gritos dos pobres. Jesus disse que, antes de oferecer nosso dom diante do altar, devemos nos reconciliar com nosso irmão, para estar em paz com ele. Acredito que possamos, por analogia, estender esse pedido para estar em paz com nossos irmãos pobres”.

 

*Walmyr Júnior é professor. Representante do Coletivo Enegrecer como Conselheiro Nacional de Juventude - CONJUVE. Integra Pastoral da Juventude e a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.