Humberto Viana Guimarães: UHE Santo Antônio: exemplo de eficiência

Por Humberto Viana Guimarães

O leilão para a concessão da Usina Hidrelétrica (UHE) Santo Antônio, localizada no rio Madeira, Rondônia, foi realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel, em 10/12/2007. O vencedor foi o Consórcio Madeira Energia, que posteriormente transferiu a concessão para a sua subsidiária integral Santo Antônio Energia S/A – SAESA (Concessionária), conforme Processo Aneel nº 48500.001273/2008-22, de 23/09/2008. O consórcio ofereceu R$ 78,87 por megawatt hora  pela tarifa média a ser gerada, o que representou um deságio de 35% do teto fixado pelo governo, que era R$ 122. De acordo às regras do leilão, 70% da energia gerada terão que ser vendidos no Ambiente de Contratação Regulada (ACR) e 30% no mercado livre. 

Para a execução da UHE, a Concessionária contratou o Consórcio Construtor Santo Antônio (CCSA) assim constituído: a) Odebrecht Engenharia e Construção (líder); b) Consórcio Santo Antônio Civil (CSAC), composto pelas Construtoras Norberto Odebrecht e Andrade Gutierrez; e c) Grupo Industrial do Complexo Rio Madeira (Gicom). Os projetos ficaram sob a responsabilidade das empresas Intertechne e PCE – Projetos e Consultoria de Engenharia.

A UHE Santo Antônio é um belo exemplo de eficiência energética. Terá potência instalada de 3.150 MW e energia firme de 2.218 MW, ou seja, eficiência de 70,41%, o que a coloca entre as melhores a nível mundial em energia assegurada. Essa eficiência, além de outros fatores, deve-se à utilização de turbinas tipo bulbo com potência unitária de 71,6 MW (44 no total), que serão as maiores do mundo e com somente 13,5 metros de queda (a segunda maior está em Tadami, Japão, 65,8 MW e 20,7 metros de queda). O diâmetro das turbinas de Santo Antônio com 8,15 metros só perdem para Murray Lock, USA, com 8,41 metros. 

Soma-se a sua eficiência energética o fato de que Santo Antônio sendo do tipo “fio d’água” (que não necessita de grande acumulação e sim volume e velocidade, típicos do rio Madeira), tem uma excelente relação entre potência e área alagada, posicionando-a como uma das melhores do Brasil. Vejamos: a área do reservatório da UHE, incluindo a área de inundação natural do rio terá um total de 271 km² (líquida = 110 km²). Considerando a potência total instalada de 3.150 MW, temos uma relação de 11,62 MW/km² e somente 0,086 km² de inundação por MW (somente a título de comparação, a nossa belíssima Itaipu tem uma relação de 9,59 MW/km² e 0,1043 km²/MW).

Muitos perguntam o porquê do uso de turbinas tipo bulbo. A resposta é simples: além de permitir que a UHE seja a “fio d’água”, ela trabalha como se fosse uma descarga (vertedouro) de fundo que, somada ao vertedouro de crista dá maior segurança à estrutura na vazão das grandes cheias. Ademais, devido à velocidade da vazão pelas turbinas há, também, a vantagem do escoamento dos sedimentos (que normalmente se acumulam à montante das turbinas convencionais).

O cronograma original previa o início da operação comercial em dezembro de 2012. No entanto, como resultado do enorme empenho da concessionária e do consórcio construtor – a obra foi iniciada um mês após a concessão da licença de instalação pelo Ibama (18/08/08) –, a data foi antecipada em um ano, sendo que a 1ª unidade entrará em operação comercial em 15/12/2011, a 2ª e 3ª unidades em 01/01/2012, e assim sucessivamente, sendo que a 44ª unidade entrará em operação em 01/11/2015, de acordo ao Segundo Termo Aditivo, Processo Aneel nº 48500.001273/2008–22, de 23/08/2010. O diretor-geral da Aneel, Nelson Hübner, ressaltou que “o fato de termos adiantado em um ano o início da operação comercial da usina é muito positivo. É a entrada de uma energia limpa e mais barata na economia do país.” 

Tendo em vista que o “Linhão” que ligará Porto Velho (RO) a Araraquara (SP) não estará concluído quando do início da geração, a Aneel autorizou a SAESA construir uma subestação na região, de forma alternativa e provisória, para escoar a energia gerada, assunto que será tratado num futuro texto.

E-mail: humbertoviana@terra.com.br