Carlos Eduardo Novaes: Minha estreia no JB
Senti-me um predestinado quando cheguei ao JB, em 1970, para trabalhar na editoria de Esportes. Com uma semana de casa, acompanhei o Botafogo – justo o Botafogo! – em uma excursão de 45 dias pelas Américas, do Sul e Central.
O clube havia convidado o jornalista Sandro Moreira que, já escalado para integrar a equipe do jornal na Copa do Mundo, declinou do convite alegando que não agüentaria o México duas vezes em um mesmo ano. Oldemário Touguinhó, o editor, ofereceu a vaga ao Luiz Lara, que recusou por estar saindo de férias. Consultou João Areosa, que estava de casamento marcado. Falou com mais dois: um deles iria se submeter a uma pequena cirurgia, e o outro estava se separando da mulher. Acabou sobrando para mim, que mal sabia o nome completo dos coleguinhas de editoria.
Recordo que, ao ser informado da viagem, desci às pressas à Casa Barki – o JB ainda era na Av. Rio Branco – para comprar um terno. No aeroporto, experimentei uma pontinha de decepção ao constatar as ausências de Gerson e Jairzinho, as estrelas do time. Viajamos direto para a Cidade do México onde o Botafogo disputaria um quadrangular com o Partizan da Iugoslávia e outros dois clubes locais. Uma viagem sacudida por intermináveis turbulências que certamente fariam Gerson – que morre de medo de avião – desembarcar na maca.
Não tenho a menor idéia de como se saiu o Botafogo, mas, fora isso, guardo inúmeras lembranças dessa primeira viagem profissional em que não tive de pagar hotel nem passagem aérea e ainda recebia do jornal uma diária de ministro de Estado. Que poderia eu querer mais?
Trinta dias na Cidade do México – que pareceram uma eternidade – me deram oportunidade de um encontro com Cantinflas – primeira entrevista internacional – e de participar dos coletivos do Botafogo no estádio Azteca. Ofereci-me para completar o time reserva, e Zagalo, o técnico na ocasião, me botou na lateral direita, com a missão de marcar Paulo Cesar Caju. Creio que não me sai mal. Toda vez que ele vinha na minha direção eu gritava: “Passa essa bola! Passa logo! Se me driblar vou meter o pau em você no jornal!”
Sufoco experimentei fora do campo. A permanência do Botafogo no México – em janeiro – coincidiu com o sorteio das chaves da Copa, que seria realizada no meio do ano. No momento em que me despedia dos coleguinhas da redação, Oldemário pediu-me para cobrir o tal sorteio no hotel cinco estrelas Maria Isabel (ou algo parecido). Foi explícito, sabendo-me um marinheiro de primeira viagem:
– Anota os sorteios das chaves, corre para a UPI (agência de notícias) e manda a matéria o mais rápido possível para o jornal.
– Só uma pergunta: mando como?
– Pelo telex, é claro!
– E como funciona um telex?
Pela cara do Oldemário percebi que faltou pouco para a delegação do Botafogo viajar sem jornalista.
