Crítica | As mães de Chico Xavier | Muita espiritualidade para pouco resultado
Há quem comente, não sem certa dose de razão, que a temática espírita já virou gênero no cinema brasileiro. Dentro desse universo, Chico Xavier é um capítulo à parte. Evocado de forma digna nos filmes de Daniel Filho (a ficção Chico Xavier) e Cristiana Grumbach (o documentário As cartas psicografadas de Chico Xavier), ele volta a ser homenageado em As mães de Chico Xavier, filme assinado por Glauber Filho (que dirigiu, ao lado de Joe Pimentel, Bezerra de Menezes – O diário de um espírito) e Halder Gomes.
O foco desta empreitada está mais próximo do doc de Cristiana. As mães de Chico Xavier aborda o sofrimento de mulheres diante de perdas inestimáveis (normalmente, de filhos) e que passam a lidar de maneira um pouco menos desesperada com as ausências ao receberem cartas de seus mortos, psicografadas por Chico Xavier.
Escorados no livro Por trás do véu de Ísis, de Marcel Souto Maior, os diretores entrecruzam as jornadas de três mulheres: Ruth (Via Negromonte), artista plástica que perde um filho vítima de dependência química, Elisa (Vanessa Gerbelli), que sofre diante da morte repentina do filho pequeno, e Lara (Tainá Müller), professora que passa por uma gravidez não planejada e se vê confrontada com o súbito falecimento do namorado. Nelson Xavier volta a interpretar o médium Chico Xavier, engajado em sua missão de confortar corações e mentes.
A sobriedade passou longe da realização de As mães de Chico Xavier. Os cineastas enveredam pelo exagero, especialmente na utilização equivocada e quase onipresente da trilha sonora (de Flávio Venturini) e nos dispensáveis efeitos de câmera. Alguns atores se esforçam, sem sucesso, para emprestar dignidade a um resultado que visa claramente o tilintar das caixas registradoras. Soa um tanto artificial, inclusive, um diálogo entre os personagens de Herson Capri (Mário) e Caio Blat (Karl), que trabalham numa emissora de televisão, no qual afirmam que “a verdade não combina muito com a audiência”.
Precário como realização cinematográfica – por que deixar para o final a revelação dos acontecimentos relacionados ao filho de Ruth e Mário? –, o filme estampa ainda uma mensagem contra o aborto, questão polêmica que mereceria um debate mais cuidadoso.
