Crítica | O retrato de Dorian Gray | Juventude eterna?

Por Paulo Marcio Vaz

A história original de O retrato de Dorian Gray, escrita por Oscar Wilde, por si só, fascinante, já seria meio caminho andado para que o filme baseado no livro não deixasse a desejar. E não deixa. Com excelente fotografia, retratando a requintada Londres vitoriana, a versão para o cinema, dirigida por Oliver Parker, dá ao espectador doses certas de romance, drama, suspense e terror, sem descambar para nenhum dos exageros que cada um dos gêneros poderia suscitar.

No papel principal, o ator Ben Barney é convincente ao encarnar o belo Dorian Gray, jovem recém-chegado a Londres para assumir uma baita herança deixada pelo tio. Inocente e bom moço, ele é rapidamente levado para o mau caminho por um lorde devasso, Henry Wotton, bem interpretado por  Colin Firth.

Logo ao chegar a Londres, o charme e a beleza física de Dorian fazem com que o pintor Basil Hallward, magnificamente vivido por Ben Chaplin, convença o jovem a se deixar retratar em um quadro: aí começam os problemas. Indagado pelo lorde, diante da obra-prima já pronta, se venderia sua alma para que jamais envelhecesse, Dorian diz sim. A partir daí, é a imagem no quadro quem envelhece, ganhando inclusive ferimentos e cicatrizes, enquanto o Dorian de carne e osso cai na gandaia e comete todos os abusos possíveis, mas permanece fisicamente irretocável. Enquanto os anos passam, sua imagem na tela do quadro – à essa altura já escondido nos porões do palácio – se deteriora de forma aterrorizante.

Ao longo do filme, Dorian e Wotton são obrigados a levar uma vida dupla, se passando por bons e honrados homens em meio à alta sociedade da Londres do século 19, enquanto, nos bastidores, pintam e bordam nos prostíbulos e em festas regadas a sexo e álcool no próprio palácio. A característica dos personagens dá aos atores um trabalho extra e valoriza suas atuações. 

Devido ao peso dos personagens principais, a interpretação de Ben Chaplin até pode passar um pouco despercebida entre os espectadores menos atentos. Mas vale a pena perceber a grande dose de talento que ele empresta ao pintor Basil Hallward, equilibrando muito bem todos os aspectos de seu  papel, inclusive a homossexualidade enrustida.

O retrato de Dorian Gray  até poderia ir um pouco mais além nos quesitos trilha sonora e roteiro. Mesmo assim, é um belo filme.