Crítica | Animais unidos jamais serão vencidos | Sensação de déjà vu
Certas histórias não envelhecem nunca e outras até nem tão antigas assim parecem ter o mesmo destino. Inspirado na fábula infantil A conferência dos animais (1949), de Erich Kästner e com alguns ecos do clássico A revolução dos bichos (1945), de George Orwell, esta animação tem em seu título no Brasil uma síntese de sua história. A bicharada (humanizada) é a protagonista, que vem sofrendo com as mudanças climáticas. O que se vê nas salas escuras é uma versão bem-humorada da já surrada luta contra o maior dos predadores: o homem. Na trama, bichos de lugares distantes, como Austrália e África, por exemplo, sofrem com a interferência da humanidade na mãe natureza. Até que um suricato inquieto acaba descobrindo que um super-hotel é o responsável pela grande seca que ele e seus amigos vêm enfrentando. Dispostos a fazerem mudanças e querendo tomar as rédeas da situação, eles resolvem rebelar-se contra tal atitude.
Dirigido e produzido pelo alemão Reinhard Klooss (Tô de férias), o longa é a primeira animação de aventura em 3D realizada na Europa. Com traços mais infantilizados e menos realistas (mas não menos competentes) que outros “concorrentes” do segmento, o recado sobre “o ladrão que rouba o que quer”, como disse a experiente tartaruga de Galápagos, tem todos os ingredientes para encantar os pequeninos, mas pode deixar a desejar para os adultos (mal) acostumados aos filmes da Pixar, por exemplo. Apesar de uma trilha de clássicos com uma roupagem pop, como King of the road, Hokey pokey e Splish splash, sob a batuta de Randy Newman, ganhador do Oscar 2011 por Toy story 3, faltou aquele toque especial para fazer desta aventura uma obra singular.
Entre os detalhes que não contribuem para um resultado plenamente satisfatório, principalmente para os grandinhos, a total sensação de já ter visto quase tudo em outras aventuras é o que mais incomoda, deixando evidente a falta do frescor da novidade. Entre muitos outros, é fácil reconhecer vestígios de O rei leão, A era do gelo, O bicho vai pegar, e até um famigerado Taz (copiado do diabo da Tasmânia da Warner) está presente com a mesma dificuldade de se comunicar, fazendo uso de arrotos e flatulências para provocar risos. Está tudo ali, desde bichos que cantam e dançam em coreografias selvagens até passagens mais escancaradas, como a fixação por uma lata de bebida e um grande sufoco para mantê-la nas mãos. Ou seja, qualquer semelhança com o esquilo dente de sabre Scrat não terá sido mera coincidência. Assim, elimine expectativas de assistir a uma animação impactante e contente-se em ver mais uma crítica à sociedade moderna através desta dessa verdadeira revolução dos bichos.
