Luiz Orlando Carneiro: BMW Jazz Festival
Reunião inusitada de gigantes do saxofone
O BMW Jazz Festival, a ser realizado em São Paulo (Auditório Ibirapuera, 10, 11 e 12 de junho), já seria imperdível fosse sua programação limitada aos quartetos dos magistrais saxofonistas Wayne Shorter e Joshua Redman. O combo do septuagenário Shorter (Danilo Perez, piano; John Patitucci, baixo; Brian Blade, bateria) é, desde 2001, quando gravou “Footprints live!” (Verve), o mais criativo, telepático e hipnótico pequeno conjunto de jazz em ação, como demonstrou aos jazzófilos cariocas e paulistas, em 2005, no Tim Festival. O time de Redman chama-se James Farm, e sua idade média é de 34,5 anos (Aaron Parks, piano; Eric Harland, bateria; Matt Penman, baixo). Ainda não estreou em disco, mas Penman qualifica o grupo cooperativo como “um quarteto de jazz acústico com uma atitude progressista e som moderno, criando música que é, ao mesmo tempo, rítmica e tecnicamente complexa e harmonicamente rica”. Há um “sample” do James Farm Quartet no YouTube.
Zuza Homem de Mello, curador do BMW Festival – produção da Dueto, de Monique Gardemberg – batizou a primeira noite de Saxorama, e explica no que pensou: “O programa reúne três excepcionais saxofonistas de suas respectivas gerações - Wayne Shorter, dos anos 60; Billy Harper, dos 70; e Joshua Redman dos 80. A reunião desses gigantes num só show é tão inusitada que não se tem noticia de algo semelhante nem mesmo nos Estados Unidos. A par da apresentação individual de cada saxofonista com seu próprio grupo, o espetáculo como um todo será um painel do instrumento que melhor simboliza o jazz contemporâneo, o saxofone tenor”. Zuza explica a escolha de Billy Harper, 68 anos, veterano expoente do “free jazz”: “A geração surgida na década de 70 ficou bastante prejudicada, prensada entre o brilho dos músicos dos anos 60 e os 'young lions', da década de 80, à frente Wynton Marsalis”. E Zuza tem razão. Billy Harper é um dos mais subestimados “jazzmen” contemporâneos.
Na segunda noite do festival, apelidada de Roots (Raízes), destaque para a Madison Bumblebees of Winnsboro, “banda da Carolina do Sul, que combina a tradição vocal do gospel com a novidade de um naipe de trombones” – comenta o curador. E não vai faltar a raiz afrobrasileira, servida pela Orkestra Rumpillezz, criada na Bahia, e comandada pelo saxofonista Letieres Leite.
Na última noite do festival, o “menu” tem três pratos: O clássico trio piano-baixo-bateria, liderado pelo conceituado pianista norueguês Tord Gustavsen; o sabor flamenco, por conta do contrabaixista francês de origem catalã Ranaud Garcia-Fons – que o baixista “aposentado” Zuza Homem de Mello considera “um fenômeno” - à frente de seu quarteto, que inclui o acordeonista David Venitucci; o fusionismo de estética Miles Davis, circa 1986 (“Tutu”), do consagrado baixista elétrico Marcus Miller, que traz no seu grupo o brilhante trompetista Sean Jones, 32 anos.
