Duplo acerto de contas

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Carlos Helí de Almeida BERLIM Q uando atravessaram o tapete vermelho do Festival de Berlim, na noite de ontem, os irmãos Joel e Ethan Coen deixaram para trás uma triste memória associada à maratona alemã. Foi aqui, 13 anos atrás, que O grande Lebowski come çou sua ingrata carreira nos cinemas, que resultou em um dos maiores fracassos comerciais dos realizadores americanos.

Ao bater na tela da sessão de abertura da 61ª edição da Berlinale, o faroeste Bravura indômita , novo filme da dupla, acumulava mais de US$ 155 milhões de bilheteria no circuito americano, desde já o título mais rentável dos diretores. O longa-metragem protagonizado por Jeff Bridges e a novata Hailee Steinfeld, que concorre em dez categorias para o Oscar deste ano, chega hoje às salas brasileiras ( leia crítica na página 32).

– Lebowski foi até razoavelmente bem nos países europeus mas, nos Estados Unidos, foi reduzido a um ridículo filme cult – lembrou Joel Coen, o mais mal-humorado dos dois autores de Onde os fracos não têm vez (2007), durante o encontro com a imprensa, ladeado por parte de sua equipe. – Bravura indômita é um animal diferente, outro tipo de filme.

Como diretores que costumam dar um toque pessoal aos filmes de gênero, os Coen, na verdade, oferecem mais do mesmo. Como o título sugere, Bravura indômita revisita o universo do clássico do western dirigido por Henry Hathaway (1898)-1985) e protagonizado por John Wayne (1907-1979), arquétipo do vaqueiro/pistoleiro/herói do Velho Oeste americano, em 1969. O roteiro, no entanto, está fincando no romance que o inspirou, escrito por Charles Portis.

– Nunca pensamos em Bra vura indômita como uma refilmagem – explicou Ethan Coen, de 53 anos. – Nossa lembrança do filme de Hathaway era muito vaga, porque éramos crianças quando ele foi lançado. O desejo de fazer algo no gênero nasceu de nosso entusiasmo gerado pela leitura do livro de Portis. É uma história que tem uma certa relevância para nós.

Assim como o livro, publicado em 1968, o filme descreve a trajetória de Mattie Ross (Hailee), adolescente de 14 anos que contrata os serviços de Roster Cogburn (Bridges), xerife velho e alcoólatra, mas com fama de durão, para caçar o assassino de seu pai. Os dois atravessam o território índio no Arkansas seguindo a trilha de Tom Chaney (James Broslin), o vilão. A história é narrada pela protagonista, já uma senhora quarentona.

O humor e a sagacidade da narrativa servem perfeitamente ao gosto dos Coen.

Jeff Bridges, que trabalhou com os diretores em O grande Le bowski , elogiou a iniciativa dos Coen de terem preferido debruçar-se sobre o livro de Portis em vez de recorrerem ao clássico dos anos 60.

– Como ator, a opção que eles fizeram me foi mais vantajosa, pois o livro é mais informativo sobre o meu personagem do que o filme de Hathaway – disse o ator de 61 anos, dono de um Oscar por Coração louco (2009). – O desafio foi tornar o que ele diz em cena real, já que o jeito como Cogborn fala é bastante confuso para a maioria. Aliás, tenho que pedir desculpas pela imprecisão da fala do personagem, mas é assim que aquele sujeito se comunica, mesmo. Para nossa sorte, há as legendas. Inclusive nos países de língua inglesa. ( risos ) Continua na página seguinte.