Pag. 4 - O homem que domou o Lobão

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D epois de 30 anos de jornalismo investigativo, vários livros e um Prêmio Jabuti, Claudio Tognolli foi o escolhido por Lobão para escrever sua biografia, 50 anos a mil . “Eu disse sim na hora, afinal de contas, quem é que, em sã consciência, não toparia ter o nome aliado a uma grife glamourosa como o Lobão?”, comemora. Como era sua relação com as músicas do Lobão nos anos 80? Era fã, não gostava, qual era sua opinião na época? – Eu tenho um trauma pessoal muito grande com relação aos anos 80. Eu estudei Jornalismo na ECA-USP e o Paulo Ricardo, do RPM , me chamou para tocar com ele numa banda chamada P i f Pa f . Em casa, estávamos com dificuldades financeiras porque meu pai tinha morrido de Fernanda Dannemann e Marcelo Migliaccio erro médico, e por uma série de questões, as empresas da família ficaram embargadas. Cheguei a ouvir da minha mãe que ela iria se matar se eu não largasse o rock’n’roll e fosse trabalhar. Eu saí do P i f Pa f p a ra ser diagramador da revista Ve j a . Um ano e dois meses depois, o P i f Pa f virou RPM e explodiu. Freudianamente, eu passei a ter ódio de todo rock nacional. Na minha casa, só entravam dois tipos de disco: do Lobão e dos Paralamas do Sucesso . O Lobão me tocava a alma, e os Pa ra l a m a s e ra m uma cópia da minha banda predileta, The Police . Lembro muito bem de ouvir até 50 vezes, um atrás do outro, o riff da música Canos Silenciosos , do Lobão. Eu logo me tornei repórter de crime, aliás o que faço até hoje, 30 anos depois. Bem nessa época, o Lobão começou a falar muito de crime, direitos humanos e cadeia: esses foram os códigos de comportamento responsáveis pelo anel de Shazan que me uniu a ele na época.

Como jornalista, que contatos havia tido com ele antes de surgir a proposta da parceria? Já o havia entrevistado? – Em março de 1999, a revista Caros Amigos fez uma reportagem de capa comigo em que eu denunciava o que batizei de “máfia do dendê”. Como Caetano Veloso e Gilberto Gil montaram uma rede de troca de favores entre jornalistas para que pudessem apoiar quem os apoiava e demitir quem os desagradava. Soube que Lobão leu aquilo e gostou muito, mas eu só iria ter contato com ele pessoalmente cinco anos mais tarde, quando fizemos duas capas com ele na revista Caros Amigos .

E como surgiu a parceria do livro? – Foi em abril de 2009: um aluno meu que trabalhava na MTV me disse que o Lobão me queria dando uma entrevista sobre redes sociais em seu programa na MTV. Cheguei lá e nos intervalos via muito o Marcelo Tas, que também estava na entrevista, apontando para mim e cochichando para o Lobão: “esse é o cara, esse é o cara”.

No outro dia, a mulher e empresária do Lobão, Regina Lopes, me ligou fazendo a proposta do livro. Eu disse sim na hora, afinal de contas: quem é que em sã consciência, ou na mais insana inconsciência, não toparia ter o seu nome aliado a uma grife glamurosa como o Lobão? Continua na página seguinte. “Sim, o Herbert (Vianna) o copiou ao osso” NO PALCO – Lobão durante a gravação do CD-DVD Acústico MTV.