Crise política e econômica na Espanha provoca derrota de Rajoy nas urnas
O primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, sofreu uma grave derrota nas eleições legislativas deste domingo (20), com seu Partido Popular (PP) perdendo um terço das cadeiras que tinha no Parlamento. A grave crise espanhola se traduziu nas urnas em redução do PP de 186 cadeiras para 123.
Com a derrota do PSOE, que obteve apenas 92, os eleitores espanhois (foram 36 milhões de convocados às urnas neste domingo) decretaram o fim do bipartidarismo no país.
Podemos e Ciudadanos, siglas novas no cenário eleitoral, cresceram e obtiveram, respectivamente, 69 e 40 vagas. O Podemos é o partido à esquerda do PSOE, enquanto Ciudadanos é a nova legenda de centro, que ficou em quarto lugar.
Para governar com maioria, o mínimo teria sido a obtenção de 176 cadeiras, o que nem mesmo o PP conseguiu. O resultado, dramático, mostra que ninguém terá maioria clara para governar a Espanha nos próximos anos, diante da força dos novos partidos.
Rajoy esperava pelo resultado, já que as pesquisas nas últimas semanas vinham apontando que pela primeira vez na história da democracia espanhola a disputa pelo Parlamento não estaria concentrada nos dois partidos de mais tradição: o Popular (PP), do atual primeiro-ministro, e o Partido Socialista (PSOE), que esteve à frente do governo anterior e, agora, tem o economista Pedro Sanchez como candidato.
Na última pesquisa oficial, feita pelo Centro de Pesquisa Sociológica, o PP estava à frente, com 28,6% dos votos, seguido dos Socialistas, com 20,8%, seguidos de 19% das intenções de voto para a legenda liberal, de centro-direita, Ciudadanos, liderada pelo advogado Albert Rivera, e 15,7% para o jovem Podemos, com tendência à esquerda e postura anti-austeridade. O partido, criado há menos de dois anos, tem no comando o professor universitário Pablo Iglesias.
Novos atores do parlamento espanhol
Logo após o anúncio, Pablo Iglesias reafirmou que os resultados das eleições gerais na Espanha indicam "o fim do bipartidismo" e considerou como prioridade do seu partido uma reforma constitucional ampla.
"Hoje nasceu uma nova Espanha. Inaugura-se uma nova etapa política no país. As forças da mudança obtiveram mais de 20% dos votos, mais de 5 milhões de votos em todo o país", afirmou Iglesias, numa referência ao seu partido e às formações "irmãs" que apoiou, o En Comú Podem, da Catalunha, o Compromís, da Comunidade Valenciana e o En Mareas, da Galiza.
Iglesias recordou que o Podemos foi a força mais votada na Catalunha e no País Basco e a segunda mais votada em comunidades como Madrid e Galiza - em ambos os casos atrás do PP. Com 97% dos votos escrutinados, o PP registra 123 deputados, seguido do PSOE - com 92 -, do Podemos, que estreia no parlamento com 69 deputados, e do Ciudadanos, com 40 assentos.
O líder do Podemos destacou que o PP, de Mariano Rajoy, obteve o seu pior resultado desde 1989 e o PSOE, de Pedro Sánchez, o seu pior resultado desde que há democracia na Espanha (1977). "Acabou-se o sistema da rotação [de poder] na Espanha, acabou-se o bipartidismo. Somos a única força política de âmbito estatal capaz de liderar um acordo plurinacional que respeite as forças da mudança que os espanhóis pedem", disse Iglesias.
Ele enumerou suas prioridades: "em primeiro lugar a blindagem dos direitos sociais na constituição", defendendo o direito à habitação contra os despejos, a saúde pública e a educação.
Também recordou como prioridade do seu programa uma reforma do sistema eleitoral, "imprescindível e inadiável", que permita o desenvolvimento "plurinacional de Espanha" e uma moção de confiança ao governo em caso de não cumprimento do seu programa.
"Estamos começando uma nova era política no nosso país e a nossa agenda, antes de mais nada, é a reforma constitucional", disse Iglesias, ao ser questionado sobre possíveis acordos para formar o governo ou para a votação de investidura do presidente do Governo.
Eleições de maio anteciparam crise do PP nas urnas
Em maio deste ano, as eleições municipais e regionais já haviam colocado em xeque o bipartidarismo no país, com a ascensão do Ciudadanos e do Podemos. Os escândalos de corrupção envolvendo o partido do governo, a economia em crise, que não mostrou sinais consistentes de recuperação após as medidas de austeridade e a alta taxa de desemprego, de 21%, a segunda maior da Europa, atrás apenas da Grécia, fizeram com que os espanhóis olhassem para alternativas.
Criar empregos e apresentar soluções para a economia sem perda de direitos e benefícios sociais para a população serão os principais desafios do próximo governo, que ainda precisará lidar com o movimento pela independência da Catalunha, cada vez mais forte.
