Família de preso político morto emigra para os Estados Unidos

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A família do preso político cubano Orlando Zapata, morto em fevereiro de 2010 em greve de fome, partiu para Miami nesta quinta-feira com as cinzas do ativista, encerrando um capítulo de tensões entre o governo cubano e a dissidência, que desencadeou a libertação de uma centena de presos políticos.

"O voo partiu às 15h10 (locais, 16h10 de Brasília)", disse um funcionário do serviço de informação do aeroporto de Havana à AFP, por telefone.

Carregando uma urna com os restos mortais icinerados, Reina Tamayo, mãe de Zapata, e outros 12 parentes foram levados de ônibus por membros da segurança do Estado ao terminal exclusivo para os voos para os Estados Unidos, explicou a mulher à AFP, por telefone, do salão do aeroporto, duas horas antes da partida.

"Sinto dor ao sair de nossa pátria. Não estou conformado com isso, mas tenho os restos do meu filho. Nunca o abandonei", disse Tamayo, que viajou com quatro filhos, quatro netos, duas noras, um genro e seu marido.

Apesar de o governo ter dado permissão de saída do país em novembro passado, Tamayo negava-se a emigrar sem os restos mortais de seu filho, finalmente exumado pelas autoridades na terça-feira no cemitério de Banes, na província de Holguín, 840 km a leste de Havana, e levados à capital com toda a família para sua cremação.

"Vamos embora por conta dos maus tratos que sofremos do governo. Mas esta mãe continuará lutando pelo que tanto Orlando Zapata defendia para o povo cubano: liberdade e democracia", disse a mulher, de 62 anos, que se tornou férrea opositora depois da morte de seu filho.

Zapata, um pedreiro de 42 anos - sem filhos nem mulher - detido em 2003 e com pena acumulada de cerca de 30 anos por crimes como desordem pública e desacato, morreu em 23 de fevereiro de 2010 após uma greve de fome com a qual exigia melhores condições carcerárias.