Duas décadas de liberdade: o dia em que Berlim conquistou o mundo
Jornal do Brasil
RIO DE JANEIRO - Um verdadeiro monumento ao controle estatal, cenário pavoroso de dramas e tragédias, fonte inesgotável para romances e filmes de espionagem. O Muro de Berlim simbolizava uma barreira física e psíquica, que dividia a cidade como uma feia cicatriz de 154 quilômetros. Nos 28 anos de sua existência, o símbolo maior da Guerra Fria e do confronto entre Ocidente e Oriente registrou a contabilidade macabra de 809 pessoas mortas, vitimadas ao tentarem fugir do enclausuramento do Leste, mesmo sem saber direito o que encontrariam do outro lado. Amanhã se comemora o 20º aniversário de uma data inesquecível, o dia em que os alemães orientais, em estado de puro êxtase, puseram abaixo a trágica muralha. É bem verdade, entretanto, que a Cortina de Ferro já havia começado a ruir na Hungria, Polônia e Tchecoslovákia. O Muro, outrora inexpugnável, também já se mostrava vulnerável e hordas de alemães já o haviam atravessado rumo ao lado Ocidental. A grande ironia da decisão política por detrás da Queda do Muro e da abertura de todas as fronteiras na Alemanha Oriental reside em que os líderes do bloco soviético passaram a admitir que sua população pudesse viajar livremente, movidos pela crença de que, com isso, as pessoas não seriam tentadas a abandonar os países do bloco para sempre. Em meio a toda a euforia gerada pela abertura, cristaliza-se, ao final, a mais fina ironia: um muro que havia sido construído em 1961 para evitar que o povo fugisse para o Ocidente,era, 28 anos mais tarde, derrubado exatamente pelo mesmo motivo.
