Obama é fruto das cotas, diz reitor de faculdade 'negra'

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Portal Terra

PORTO ALEGRE - A eleição de Barack Obama como o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos trouxe de volta a discussão sobre a questão racial. Para José Vicente, reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, a primeira do Brasil voltada para alunos negros e que se apresenta como a faculdade "negra", a ascenção de Obama é fruto do sistema de cotas, e a sua primeira visita oficial ao Brasil vai expor a verdadeira ideologia racial brasileira.

Para ele, a eleição de Barack Obama traz duas modificações na estrutura da sociedade americana.

- Ela confirma que os Estados Unidos dão um passo adiante em suas políticas de segregação. Na terça-feira, o País disse não a essa separação, se assumiu como um fruto da miscigenação.

- No aspecto individual, a eleição de Obama reitera para os negros que eles podem e devem acreditar em seu potencial, em seus sonhos, em suas crenças. Que se você se preparar, pode desacreditar dos obstáculos, que não há mais a noção do impossível, acrescentou.

Ele ressaltou a política de cotas dos Estados Unidos, que possibilita maior acesso dos negros ao ensino superior, como fator determinante para a "nova cara" da sociedade americana.

- A política de cotas raciais, ou ações afirmativas, permitiram que existisse um Obama, um Colin Powell, uma Condoleezza Rice... Os Estados Unidos já têm um geração formada pelas cotas raciais, e a tendência é aumentar. Já são 120 universidades voltadas para os negros.

- É obrigação de qualquer governo prover saúde e educação para todos, e quando isso não é possível, cabe ao Estado instrumentalizar esse acesso, acrescentou.

José Vicente se mostrou confiante quanto aos reflexos no Brasil.

- Haverão muitos reflexos em nossa sociedade. Barack Obama vai visitar o Brasil, e todo um cerimonial terá de ser organizado. A Chancelaria brasileira, onde não há negros, vai receber com honras um negro com sua família, também negra. Isso é inédito no Brasil. Acredito que isso causará um efeito replicativo no Brasil.

No entanto, José Vicente ache que ainda há muito a se evoluir no Brasil no campo da afirmação racial.

- Ainda é muito embrionário, estamos pouco avançados nesse aspecto. Os Estados Unidos são um País onde há 40 anos existiam leis que regravam a segregação, enquanto nós abolimos a escravatura há 120 anos. Mas no Brasil não temos negros em cargos de diretoria nas empresas e nem negros assumindo cargos políticos importantes.