Argentina homenageia vítimas do regime militar, 32 anos após o golpe

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Agência EFE

BUENOS AIRES - O governo argentino e organizações de direitos humanos homenagearam, nesta segunda-feira, as milhares de pessoas que desapareceram durante a ditadura no país, o que ainda é motivo de dor mesmo 32 anos após o golpe de Estado que instaurou o regime militar.

- Ninguém mereceu ser alvo do ódio e da ferocidade dos repressores. Os milhares de desaparecidos ainda causam dor aos argentinos - disse o secretário de Direitos Humanos do país, Eduardo Luis Duhalde.

Duhalde liderou, nesta segunda-feira, o principal ato do Dia Nacional da Memória pela Verdade e pela Justiça, declarado feriado na Argentina há dois anos em honra às vítimas da ditadura no país (1976-1983). A cerimônia ocorreu na Escola Superior de Mecânica da Marinha (Esma, na sigla em espanhol), a principal prisão clandestina usada durante o regime militar, e não contou com a presença da presidente argentina, Cristina Kirchner, que descansa na cidade de El Calafate, no sul do país.

Duhalde prestou homenagem a 'todas as vítimas' da repressão, sustentou que 'não há inocentes e culpados' e definiu o dia 24 de março de 1976, data do golpe de Estado que levou à ditadura, como o início da 'noite mais negra da história argentina'.

Além disso, o secretário reconheceu que são 'justas' as queixas pela 'lentidão' dos processos judiciais por violações aos direitos humanos, mas lembrou que é 'preferível uma justiça tardia a uma injustiça eterna'.

- Quase 30 anos foram perdidos, e é necessário buscar os caminhos para contribuir para que os julgamentos sejam acelerados - destacou Duhalde, antes de uma missa na qual compareceram sobreviventes e representantes de organismos humanitários, entre eles as Avós da Praça de Maio e um setor das Mães da Praça de Maio. A presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, também reivindicou 'rapidez' à Justiça e destacou que hoje é um 'dia de vitória'.

- Vi uma soma de exigências de justiça que transforma o de hoje em um dia de triunfo e que faz com que fique isolado este grupo de indesejáveis que ainda acredita que o que foi feito na ditadura está bem - indicou. Entretanto, Carlotto afirmou que o fato de tal grupo estar isolado não significa que esqueceram que 'entre eles há genocidas que merecem a prisão comum'.

Desde a anulação parlamentar das chamadas 'leis do perdão' em 2003 - as quais beneficiaram milhares de repressores - só houve 19 condenações por violação dos direitos humanos, crime pelo qual mais de mil militares e policiais são acusados.

Cerca de 200 processos estão em curso atualmente. Um total de 370 militares foi processado por juízes de instrução, dos quais 290 estão presos de forma preventiva e em torno de 40 estão foragidos.

O ato ocorrido nesta segunda-feira na Esma, onde funciona o Museu da Memória, foi um dos diversos eventos organizados na Argentina para lembrar o golpe de Estado de 1976.

Outro ato de destaque foi uma passeata organizada por grupos de defesa dos direitos humanos rumo à Praça de Maio, em frente à sede do Governo argentino, que utilizavam o lema: 'Contra a impunidade: julgamento e prisão comum a todos os genocidas'.

Diante de milhares de manifestantes foi lido um comunicado conjunto, no qual se voltou a pedir que sejam agilizados os julgamentos dos repressores. No ato também foram questionados os juízes 'cúmplices', aos quais os organismos humanitários acusaram de manter as causas 'em uma gaveta'.

O documento foi assinado por mais de 300 organizações de direitos humanos, políticas, sociais, culturais e religiosas. O setor mais radical das Mães da Praça de Maio também organizou sua própria manifestação em um complexo habitacional situado no sul da capital argentina.

Segundo números oficiais, 18 mil pessoas desapareceram na Argentina durante a ditadura militar, enquanto entidades humanitárias trabalham com a cifra de 30 mil.