Maurice Papon, colaborador francês dos nazistas, morre aos 96

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REUTERS

PARIS - Maurice Papon, único oficial nazista francês condenado pela atuação na deportação de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, morreu no sábado aos 96 anos de idade, disseram fontes policiais. Político de sucesso no pós-guerra que se tornou ministro antes de ter o passado revelado, Papon passou por cirurgia cardíaca na terça-feira e morreu nos sábado em uma clínica privada perto de Paris. Papon foi condenado a 10 anos de prisão em 1998 por cumplicidade em crimes contra a humanidade. Ele fugiu para a Suíça enquanto ainda estava apelando da sentença, mas foi preso pela polícia suíça e entregue às autoridades francesas em 1999 e libertado em setembro de 2002 devido à má condição de saúde.

O julgamento de Papon confrontou a França com a realidade de sua colaboração com a ocupação nazista, uma página da história que os franceses viraram rapidamente depois da guerra e que começaram a levar em conta somente décadas depois. Benjamin Abtan, presidente da associação francesa de estudantes judeus, disse:

- Papon pôde morrer tranquilamente - esse não foi o caso daqueles que ele mandou para a morte.

- Vamos lembrá-lo não somente como um criminoso, mas também como símbolo da responsabilidade do Estado francês na tentativa de destruir os judeus na Europa.

Em 1942, Papon foi designado secretário-geral da região de Girond, no sudoeste, e supervisionou o Serviço para Assuntos Judaicos. Papon insistiu que não sabia nada sobre o Holocausto naquela época e que usou sua posição para beneficiar a Resistência Francesa. Ele escapou da caça a colaboradores depois da guerra e ressurgiu na direita francesa. Apontado administrador-chefe da ilha da Córsega, administrada pela França, em 1947, ele tornou-se secretário-geral do protetorado francês no Marrocos em 1954 antes de servir 9 anos como chefe da polícia de Paris, a partir de 1958.

Quando a batalha pela independência da Argélia espalhou-se pela França, seu mandato no comando policial foi marcado por manifestações árabes em outubro de 1961. Os espancamentos da polícia sob suas ordens resultaram em dezenas de corpos de argelinos no rio Sena. A polêmica não impediu sua entrada no Parlamento como deputado gaulista em junho de 1968. Seu primeiro e único cargo de ministro foi na pasta de Orçamento, durante o governo do primeiro-ministro centrista Raymond Barre, em 1978.

Em maio de 1981, a revista Le Canard Enchaine publicou documentos da época da guerra assinados por Papon ordenando a transferência de centenas de judeus para o campo de trânsito de Drancy, no sul do Paris, de onde muitos foram mandados para Auschwitz. Seu indiciamento por crimes contra a humanidade foi apresentado em janeiro de 1983, depois que um advogado agindo em nome de famílias de vítimas da deportação e do caçador de nazistas Serge Klarsfeld apresentaram acusações formais.

Problemas técnicos e outros adiamentos arrastaram o caso por 14 anos, até o julgamento em outubro de 1997. Foi o julgamento mais longo da história francesa pós-guerra. Em 2 de abril de 1998, Papon foi condenado a 10 anos de prisão por cumplicidade em crimes contra a humanidade por sua atuação na organização do transporte de 1.560 judeus ao campo de trânsito a caminho de Auschwitz. Papon disse ser inocente, mas não conseguiu outro julgamento.