Kiev e Ocidente temem 'pretextos para invasão' após bombardeio no leste da Ucrânia

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Por JORNAL DO BRASIL

Vista do interior mostra um jardim de infância, que segundo oficiais militares da Ucrânia foi danificado por bombardeios, em Stanytsia Luhanska, na região de Luhansk, Ucrânia, nesta foto divulgada em 17 de fevereiro de 2022.

Kiev e seus aliados ocidentais disseram nesta quinta-feira (17) temer que a Rússia possa estar tentando criar um pretexto para desencadear uma guerra, após relatos de bombardeios na linha de frente no conflito de longa data da Ucrânia com separatistas apoiados por Moscou. 

A Ucrânia e os rebeldes pró-Rússia deram relatos conflitantes sobre o bombardeio desta quinta-feira e os detalhes não puderam ser estabelecidos de forma independente. Os relatórios de ambos os lados sugeriram um incidente mais sério do que as violações do cessar-fogo que são regularmente relatadas na linha de contato no Donbass, leste da Ucrânia.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, disse que as forças pró-Rússia bombardearam um jardim de infância, no que chamou de "grande provocação". Por sua vez, o Kremlin disse que Moscou está "seriamente preocupada" com os relatos de uma escalada depois que os separatistas acusaram as forças do governo de abrir fogo em seu território quatro vezes nas últimas 24 horas.

A secretária de Relações Exteriores da Grã-Bretanha, Liz Truss, tuitou: "Relatos de suposta atividade militar anormal da Ucrânia no Donbass são uma tentativa flagrante do governo russo de fabricar pretextos para uma invasão. Isso vem direto do manual do Kremlin".

A Otan estava "preocupada com o fato de a Rússia estar tentando encenar um pretexto para um ataque armado contra a Ucrânia. Ainda não há clareza, nenhuma certeza sobre as intenções russas", disse o secretário-geral da aliança militar ocidental, Jens Stoltenberg.

"Eles têm tropas suficientes, capacidades suficientes para lançar uma invasão completa da Ucrânia com muito pouco ou nenhum tempo de aviso", disse ele a repórteres na sede da aliança em Bruxelas. "É isso que torna a situação tão perigosa."

Moscou nega as acusações ocidentais de que planeja invadir seu vizinho e disse nesta semana que está retirando alguns dos mais de 100.000 soldados enviados para a área. O Ocidente contesta que houve uma retirada significativa e os Estados Unidos disseram que milhares de soldados ainda estão chegando.

Uma fonte sênior do governo ucraniano disse que o bombardeio na linha de contato com as forças separatistas apoiadas pela Rússia foi além da escala de violações do cessar-fogo relatadas rotineiramente durante o conflito.

"Não é típico. Parece muito com uma provocação", disse a fonte à Reuters.

Um fotógrafo da Reuters na cidade de Kadiivka, na região de Luhansk, na Ucrânia, controlada pelos rebeldes, ouviu o som de alguns tiros de artilharia vindos da linha de contato, mas não conseguiu determinar os detalhes do incidente.

Kiev acusou os rebeldes de disparar projéteis em vários locais, incluindo alguns que atingiram um jardim de infância e outros que atingiram uma escola onde os alunos tiveram que fugir para o porão.

Imagens de vídeo divulgadas pela polícia ucraniana mostraram um buraco em uma parede de tijolos em uma sala repleta de detritos e brinquedos infantis. Imagens separadas mostraram equipes de emergência escoltando crianças pequenas e professores de um prédio.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que Moscou já havia alertado que uma concentração de forças ucranianas adicionais perto da linha de frente do Donbass criava risco de provocações. Kiev negou reunir tropas extras na área.

Contradizendo as afirmações da Rússia de que está recuando, um alto funcionário do governo do presidente dos EUA, Joe Biden, disse que até 7.000 soldados a mais se mudaram para a fronteira nos últimos dias, incluindo alguns que chegaram nessa quarta-feira (16).

 

IMAGENS DE SATÉLITE

O Ministério da Defesa da Rússia divulgou um vídeo que mostrava mais unidades partindo. A Maxar Technologies, uma empresa privada norte-americana que vem monitorando o acúmulo, disse que imagens de satélite mostraram que, enquanto a Rússia retirou alguns equipamentos militares da Ucrânia, outros equipamentos chegaram.

Uma fonte diplomática disse que uma missão de monitoramento de longa data da Organização para Segurança e Cooperação na Europa registrou vários incidentes de bombardeio ao longo da linha de contato nas primeiras horas da quinta-feira.

Desde que um cessar-fogo de 2015 pôs fim ao grande combate no conflito separatista, a OSCE normalmente relata dezenas de violações de cessar-fogo todos os dias, geralmente incidentes menores de armas de teste. Relatos de bombardeios significativos ou confrontos que levam a ferimentos ou morte podem ocorrer várias vezes por mês.

A autoproclamada República Popular de Luhansk, uma das duas regiões rebeldes, disse que as forças ucranianas usaram morteiros, lançadores de granadas e uma metralhadora em quatro incidentes separados nesta quinta-feira.

"As forças armadas da Ucrânia violaram grosseiramente o regime de cessar-fogo, usando armas pesadas, que, de acordo com os acordos de Minsk, deveriam ser retiradas", disseram os separatistas em comunicado.

Referindo-se aos rebeldes, os militares da Ucrânia disseram: "Com particular cinismo, as tropas de ocupação russas bombardearam a aldeia de Stanytsa Lugansk, na região de Luhansk. Como resultado do uso de armas de artilharia pesada por terroristas, bombas atingiram o edifício do jardim de infância. dados preliminares, dois civis receberam choque de projétil."

A Rússia nega planejar uma invasão da Ucrânia, mas diz que pode tomar uma ação "técnico-militar" não especificada, a menos que uma série de exigências sejam atendidas, incluindo a promessa de nunca admitir Kiev na aliança da Otan.

O Ocidente rejeitou as principais demandas russas, mas propôs conversas sobre controle de armas e outras questões. Os Estados Unidos e a Europa ameaçaram com sanções se a Rússia invadir, uma ameaça que Moscou em grande parte ignorou. (com agência Reuters)