Dez dias que mudaram o Irã
Eventos que culminaram na Revolução Islâmica de Khomeini completam 40 anos
TEERÃ - Do retorno triunfal do aiatolá Ruhollah Khomeini a Teerã, em 1º de fevereiro de 1979, ao fim do último governo do xá, em 11 de fevereiro de 1979, 10 dias de reviravoltas e ação levaram ao colapso de 25 séculos de monarquia no Irã.
Os "dez dias do amanhecer", Daheh-ye Fajr na terminologia oficial, são celebrados todos os anos no país com grandes comemorações que exaltam a vitória da Revolução Islâmica.
Khomeini aclamado
Em 1º de fevereiro de 1979, o aiatolá Khomeini faz um retorno triunfal a Teerã, após mais de 14 anos de exílio no Iraque e no subúrbio parisiense. A volta aconteceu após meses de protestos contra o regime do xá Mohammad Reza Pahlavi, que fugiu do país em 16 de janeiro.
Um multidão de milhares de pessoas em festa aclama Khomeini no aeroporto e no trajeto que o leva ao cemitério de Behecht-e Zahra, ao sul da capital, onde faz seu primeiro grande comício. Ele questiona a legitimidade do governo de Chapur Bakhtiar, figura da oposição nacionalista escolhida pelo xá na véspera de sua fuga para o exílio, na tentativa de barrar o caminho do aiatolá e dos religiosos.
Conselho Nacional Islâmico
Em 2 de fevereiro, todos os grandes contratos (usinas, nuclear, armamentos e outros) firmados com fornecedores estrangeiros são questionados. No dia 3, em sua primeira entrevista coletiva, Khomeini anuncia a criação de um "Conselho Nacional Islâmico".
Em apoio ao aiatolá, no dia 4 de fevereiro, membros da força aérea iraniana realizam greves de fome. Ao todo, 20% dos militares não se apresentam nos quartéis.
Manifestações e greves
Em 6 de fevereiro, Mehdi Bazargan, um engenheiro nacionalista e islamista, opositor de longa data do regime do xá, torna-se primeiro-ministro do governo provisório resultante da Revolução.
Dois governos funcionam agora em Teerã: o de Bazargan, revolucionário; e o último governo imperial, o de Bakhtiar.
Para apoiar o governo provisório, o Khomeini organiza manifestações diárias com milhões de pessoas. Greves são realizadas na indústria petroleira. No dia 7, em Ispahan, segunda maior cidade do país, os mulás instalam um poder paralelo encarregado de administrar os negócios municipais.
No dia 8, em Teerã, mais de mil militares participam pela primeira vez de uma grande marcha em favor de Bazargan.
Insurreição
Em 10 de fevereiro, soldados amotinados da força aérea, atacados na véspera por elementos da guarda imperial, assumem o controle do leste de Teerã, com a ajuda de civis, também armados.
A região é isolada por barricadas. Os insurgentes conseguem invadir as prisões e libertam os presos políticos. O jornalista da AFP Pierre-André Jouve descreve uma capital "entregue à desordem": "multidões armadas com pedaços de pau, (...) homens aos milhares se denominando 'policiais da Revolução' em quase todos os grandes cruzamentos da cidade, paramédicos improvisados", relatou.
Khomeini ordena o desrespeito ao toque de recolher, mas declara que a "Jihad" (guerra santa) não está na ordem do dia.
Revolução acabada
No dia 11, um quartel do exército, no nordeste de Teerã, tomado de assalto por milhares de civis, cai nas mãos dos partidários de Khomeini.
No fim da manhã, o centro da capital passa para o controle de civis armados e de desertores. Um quartel da guarda imperial é cercado. Combates muito violentos acontecem no bairro sul entre militares de diversas facções e civis.
Assim como a televisão, a rádio estatal é tomada pelos grevistas, e anuncia a dissolução do Parlamento. Khomeini pede aos chefes militares para "não se oporem ao movimento de reunião de soldados e de oficiais". "Teerã está praticamente nas mãos dos partidários do aiatolá Khomeini", escreve o então enviado especial da AFP, Patrick Meney.
"No cair da noite, o centro de Teerã já tinha ares de uma revolução acabada: é quase a hora dos desfiles da vitória", acrescenta o jornalista. "Militares amotinados são aclamados pela multidão. Soldados do exército se unem aos estudantes em revolta no campus. Os inimigos de ontem se abraçam. As mulheres de xador estão aos prantos", relata.
À noite, um comunicado afirma que "com a vitória da Revolução", o Estado-Maior, a guarda imperial e as diferentes forças do exército "aderiram ao movimento popular". Em dois dias, a batalha deixou mais de 200 mortos e mil feridos.
Finalmente, depois do fim do governo Chapur Bakhtiar, Mehdi Bazargan se instala oficialmente na Presidência do Conselho Nacional Islâmico. Era a vitória final de Khomeini.
