Cesare Battisti chega a Itália após longa fuga

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Cesare Battisti sob escolta da Interpol, em ônibus que o levaria à aeronave italiana

A Itália recebeu às 8h36 desta segunda-feira (14), no horário de Brasília, o avião com Cesare Battisti, ex-ativista de extrema esquerda condenado à prisão perpétua em seu país de origem e expulso pela Bolívia após décadas como foragido da Justiça. Em entrevista após a chegada, o ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, agradeceu o governo de Jair Bolsonaro, e disse que com certeza Battisti vai pegar prisão perpétua.

Confira a cobertura de Lenise Figueiredo, direto de Roma para o JORNAL DO BRASIL:

Battisti, 64 anos, desceu do avião sorrindo e sem usar algemas, cercado por cerca de dez policiais que imediatamente o levaram, em meio a um importante dispositivo de segurança, para a prisão de Rebibbia, em Roma.

O avião decolou no domingo, por volta das 17h locais (19h em Brasília), de Santa Cruz (leste da Bolívia), país onde foi detido no sábado à noite. A aeronave - um Falcon 900 de bandeira italiana - chegou ao noaeroporto romano de Fiumicino, onde os ministros do Interior, Matteo Salvini, e o ministro da Justiça, Alfonso Bonafede, o esperavam junto a uma centena de jornalistas.

Uma foto divulgada pelo governo italiano o mostrou sentado no avião, com ar tranquilo e aparentemente sem algemas, com uma manta sobre os joelhos.

"Esse infame que passou anos nas praias do Brasil, ou bebendo champanhe em Paris, matou (entre 1978 e 1979) um marechal de 54 anos, um açougueiro, um joalheiro e um jovem policial, de 24 anos. Ele tem que apodrecer na prisão até o fim de seus dias", declarou Salvini à televisão no domingo à noite.

Para Salvini, esse retorno de um ex-adepto da luta armada deve ser "o início de um percurso, porque há tantos outros que passeiam pela Europa e pelo mundo. Pessoas condenadas três, ou quatro, vezes à prisão perpétua e que abrem um restaurante, que escrevem livros...".

O ministro italiano disse que tem outros nomes a reivindicar da França.

"Agora, as vítimas podem descansar em paz", declarou Alberto Torregiani, filho do joalheiro assassinado diante de seus olhos, quando ele tinha 15 anos, tendo o próprio ficado tetraplégico após ser ferido na tragédia.

>> 'Sentença é muito dura', afirma ex-mulher de Battisti

Na Itália, a detenção de Battisti foi comemorada de forma unânime, tanto à direita quanto à esquerda, em particular porque o ex-líder dos Proletários Armados para o Comunismo (PAC) alega inocência e nunca manifestou arrependimento.

"Um criminoso e um arrogante", comentou Nicola Zingaretti, principal candidato à presidência do Partido Democrata (PD, centro esquerda), reivindicando a mesma dureza contra os militantes fascistas que têm voz na Itália nos últimos tempos.

Em um comunicado divulgado à noite, o ministro das Relações Exteriores, Enzo Moavero Milanesi, agradeceu às autoridades bolivianas e brasileiras por sua colaboração.

Cesare Battisti foi condenado pela primeira vez na virada dos anos 1980 a 13 anos de prisão por pertencer ao PAC, um pequeno grupo de extrema esquerda particularmente ativo no fim da década de 1970 e considerado "terrorista" por Roma.

Depois de fugir em 1981, ele foi condenado à revelia à prisão perpétua por quatro homicídios e cumplicidade em outros assassinatos.

Depois de passar quase 15 anos na França - o então presidente François Mitterrand havia prometido não extraditar ex-militantes que tivessem renunciado à luta armada -, ele passou a viver no Brasil desde 2004. Refez sua vida no país, onde teve um filho com uma brasileira, paternidade com a qual contava também para se proteger legalmente de uma extradição do Brasil.

Com AFP