Trump atiça campanha com ameaça de enviar até 15 mil homens à fronteira

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Donald Trump levou nesta quarta-feira (31) o seu discurso eleitoral contra a imigração a um novo nível, com a ameaça de mobilizar até 15.000 homens na fronteira, em um momento em que se aproximam várias caravanas migratórias.

"Há muitas pessoas terríveis nestas caravanas. Não são anjos", disse o presidente na noite desta quarta-feira em Fort Myers, Flórida, sobre os emigrantes dos países pobres da América Central que dirigem aos Estados Unidos em busca de uma vida melhor ou para escapar da violência.

"Mas estamos nos preparando para estas caravanas, não se preocupem", declarou Trumpo no comício na Flórida.

A menos de uma semana para as eleições de meio de mandato, que se anunciam apertadas e nas quais o governista Partido Republicano pode perder o controle do Congresso, Trump tem buscado colocar a imigração no centro do debate político.

Enquanto pressiona o México para impedir a passagem de migrantes centro-americanos, Trump anunciou nesta quarta-feira que em "relação à caravana, os nossos militares estão mobilizados". "Temos 5.000 e vamos até 10.000 ou 15.000", declarou dos jardins da Casa Branca antes de viajar à Flórida para um comício.

A gestão da segurança na fronteira sul, em geral, não envolve tropas em atividade e um contingente de 15.000 homens equivaleria ao contingente dos Estados Unidos no Afeganistão.

Durante o dia, Trump reiterou a sua vontade de abolir o direito constitucional à cidadania para filhos de migrantes nascidos em território americano.

Esse direito está consagrado na 14º Emenda à Constituição e uma reforma constitucional iria precisar da maioria de dois terços do Congresso.

"O chamado direito de cidadania por nascimento, que custa ao nosso país bilhões de dólares, é muito injusto com nos cidadãos e vai acabar de uma forma ou de outra", tuitou Trump.

"Este caso será resolvido pela Suprema Corte!", prometeu.

O argumento do presidente é que a emenda trata das pessoas sujeitas à jurisdição e que isso não tem exceções, por exemplo o caso dos filhos de diplomatas.

O debate também sacudiu o Partido Republicano e, na terça-feira, Paul Ryan, chefe da Câmara de Representantes, disse que esse direito não pode ser retirado com uma ordem executiva.

Trump respondeu nesta quarta o seu correligionário dizendo é melhor se focar em manter a maioria republicana no Congresso.

"Paul Ryan deveria se concentrar em manter a maioria ao invés de opinar sobre o direito à nacionalidade por nascimento, um teme sobre o qual não sabe nada", afirmou o presidente americano.

A Liga de Cidadãos Latino-Americanos (Lulac) prometeu recorrer à Justiça caso houvesse qualquer tentativa de socavar o direito à cidadania.

O Departamento de Segurança Interior (DHS) descreveu a situação atual na fronteira como uma "crise sem precedentes".

Contudo, segundo seus dados, o número imigrantes em situação ilegal interceptados em 2018 foi de 400.000, frente a uma cifra de 1,6 milhão de pessoas em 2000.

 

A pobreza e a violência no chamado Triângulo do Norte centro-americano(El Salvador, Honduras e Guatemala), levou à fuga famílias inteiras e, em muitos casos, crianças desacompanhadas que empreenderam uma perigosa viagem em direção aos Estados Unidos.

Em 13 de outubro, uma caravana de migrantes que saiu de San Pedro Sula, em Honduras, teve uma grande repercussão midiática e chamou a atenção de Trump que, desde então, se refere ao tema quase diariamente.

Segundo a ONU, a caravana chegou a ter 7.000 migrantes, mas, na segunda-feira, as autoridades americanas estimaram que era composta por 3.500 pessoas que, atualmente, avançam pelo estado de Oaxaca, no sul do México.

Um segundo grupo de migrantes, composto por cerca de 2.000 indivíduos, avança por Chiapas, o estado mexicano que faz fronteira com a Guatemala.

Em seus tuítes matinais, Trump também se referiu ao papel do México na hora de frear os migrantes que saem da América Central.

"As caravanas estão compostas por alguns guerreiros muito experientes e outras pessoas (...) Os soldados mexicanos feridos não puderam, ou não quiseram, impedir a caravana", disse. "Deveriam tê-los detido antes de chegarem à nossa fronteira, mas eles não vão conseguir!", advertiu.

A essas duas caravanas se somam uma marcha de salvadorenhos que saiu de seu país no domingo, e outros dois grupos que somam 2.000 pessoas que partiram nesta quarta de San Salvador.

"Aqui já não existe esperança, desde fevereiro estou desempregado, e minha esposa desde maio, por isso ambos decidimos migrar", contou Anthony Guevara à AFP.

Para a encarregada de Assuntos Migratórios do Instituto de Direitos Humanos da Universidade Centro-americana (IDHUCA) de San Salvador, Karen Sánchez, o país está diante de uma "migração forçada" sem precedentes.

"As pessoas não têm mais oportunidades de viver com direito à segurança, ao trabalho, ou seja, com o direito a uma vida digna", afirmou.