Crítica: 'Gonzaga - De pai para filho'

Por Juliana de Paiva

Retratar nas telas de cinema a história de vida de dois dos mais importantes ícones da música popular do Brasil, símbolos da cultura nacional, pai e filho. Essa verdadeira responsabilidade foi assumida com coragem pelo diretor Breno Silveira (da outra cinebiografia Dois filhos de Francisco) no filme que inaugurou a décima edição do Festival do Rio.

Gonzaga - De pai para filho mostra a trajetória da carreira musical, os amores, as vitórias e amarguras do grande Luiz Gonzaga, o rei do baião. Tomando como base o seu relacionamento conturbado com o filho, o também músico Gonzaguinha, o filme apresenta as diversas facetas do homem que fez com que o forró caísse nas graças do povo, mas que na realização desse sonho esteve pouco presente na vida do primogênito.

Foram necessárias nove semanas, cem locações, uma equipe gigantesca e muita inspiração para fazer com que o longa-metragem ficasse pronto. A paisagem varia do árido sertão do Cariri, na cidadezinha de Exu, em que Gonzagão nasceu, até o Morro de São Carlos, favela onde cresceu Gonzaga filho, amparado pela supervisão e cuidado dos padrinhos Dina e Xavier (interpretados por Silvia Buarque e Luciano Quirino).

Prima na atuação o cuidado com os movimentos, as expressões e o trabalho de voz - tudo para que se assemelhem ao máximo com as pertencentes aos dois homens que revivem. A maior virtude dos atores é trazer à tona o estado de espírito do pai e do filho em cada momento específico que vivem. O Gonzagão jovem tem uma presença muito mais enérgica, violenta, até, do que o mais velho, mais nostálgico, lento, entregue às lembranças e à prosa tranquila. Destaque para a atuação de Julio Andrade como o Gonzaguinha mais maduro: identificamos o ar sisudo, revoltado e quase apático no personagem, numa interpretação bastante fiel.

O filme traz em si uma grande beleza visual e, claro, musical. As locações, especialmente as do sertão do Nordeste, com todo o sol, vestimentas de couro e juazeiros, temas de letras do “Lua”, e a trilha sonora, recheada (como se podia esperar) pelas canções dos dois Gonzagas, dão o tom e a cara que o filme precisava ter. Além disso, contamos com a presença magnífica de imagens de arquivo, muito bem alocadas, de conversas, shows, fotos e depoimentos que nos remetem aqui e acolá às puras inspirações do diretor pra fazer esse filme.

Tudo contribui para que o espectador se sinta cúmplice da história desses dois homens, indivíduos ricos em qualidades e tão cheios de falhas quanto a vida tornou possível, que nada mais querem, afinal, do que ser amigos.

Cotação: *** (Ótimo)