'Sarah Palin - Pode Crer!' conta história de personagem bastante controversa

'Pitbull de batom' nunca esteve tão bem exposta como no documentário de Broomfield

Por Filipe Quintans

Deve haver algo pior do que assistir a um documentário de 90 minutos sobre Sarah Palin. Difícil é saber exatamente o que. Dona de um currículo de gafes, autora de comentários impróprios e desconcertantes e defensora de conceitos políticos de fazer corar um Bolsonaro, a ex-governadora do Alaska (algo como ser ex-governador de Fernando de Noronha) e ex-candidata à vice-presidência dos EUA (numa chapa destinada ao fracasso desde seu nascimento), ela é a personagem que dezenas de documentaristas rezam toda noite para que lhes caia nas mãos.       

Evangélica convertida, profundamente anti-intelectual (enquanto governadora mandou queimar todos os livros que tratassem de homossexualismo), implacável com inimigos, doce e persuasiva com aliados. A 'pitbull de batom' nunca esteve tão bem exposta como no documentário de Nick Broomfield, diretor acostumado à temas e personagens controversos.

Em Kurt & Courtney (1998), ele travou uma verdadeira guerra com a viúva do vocalista do Nirvana para jogar luz sobre a suspeita de que ela havia encomendado a morte do marido; em Biggie e Tupac (2002) ele foi mais longe: a partir do depoimento de um ex-policial, revelou as estranhas conexões entre a polícia de Los Angeles e líderes de gangues que esvaziaram as investigações de ambos os crimes.       

Dado o estilo de Nick Broomfield - incisivo, insistente, enervante -  esperava-se que Sarah Palin - Pode crer! expusesse uma criatura política atroz e desprezível, o que quase sempre nasce de arranjos de montagem e texto. Não careceu de tais artifícios. Tudo o que o diretor precisou fazer foi viajar até Wasilla, Alaska, ligar sua câmera e visitar familiares, amigos e inimigos - na maioria, ex-colaboradores. Bastaram os depoimentos para retratar Sarah Palin como a grande piada que de fato ela é.

Cotação: *** (Ótimo)