ESPECIAL: Morte de Ayrton Senna completa 14 anos nesta quinta
Bruno Pontes, JB Online
RIO - No dia 1º de maior de 1994, morria em um acidente no Grande Prêmio de San Marino, em Ímola, o maior piloto que o Brasil já teve na Fórmula 1.
Ayrton Senna da Silva, de apenas 32 anos, bateu com seu Williams há mais de 300km/h na curva Tamburello, no Grande Prêmio de San Marino, em Ímola ,e deixou o povo brasileiro órfão de ídolos de verdade.
Hoje, nos 14 anos sem o ídolo, Senna que teria 46 anos, deixa saudade até mesmo nos menos aficionados pelo automobilismo. Por sua determinação, concentração e amor pelo esporte.
A história de um mito
O caso de amor de Ayrton Senna com a velocidade começou muito cedo, aos 3 anos de idade, quando seu pai já lhe dava carros de brinquedo, do tipo "pedalinho".
Um pouco mais velho, o futuro ídolo brasileiro amadureceu a idéia e sua paixão, foi necessitando de equipamentos mais "emocionantes".
A vontade foi logo atendida por "Seu Milton", que lhe deu um kart de presente. Dentro dele, o jovem piloto Senna viveu suas primeiras emoções de vencer uma corrida e segundo o próprio piloto dizia, fez escola para chegar ao limite da velocidade.
Formula Ford
O talento, já nítido no adolescente Ayrton, foi crescendo e necessitando de categorias mais competitivas como na Formula Ford, em primeiro de março de 1981, na categoria 1600 em Brands Hatch, chegando em quinto lugar na prova.
No domingo seguinte foi terceiro em Thruxton e quinze dias depois venceu em Brands Hatch.
A coroa de louros desta primeira vitória virou relíquia. Um troféu raro, guardado até hoje, por Ralf Firman, primeiro patrão de Senna, na sede da Van Dimenn, em Snetterton, Inglaterra.
Na sétima corrida, em Mallory Park, ganhou mas, pela primeira vez na F 2000, não largou na pole position. Na corrida seguinte, em Oulton Park, o motor quebrou e, finalmente, (!) ele perdeu uma corrida.
Não aconteceu nada de extraordinário. Ayrton Senna, como tudo em que fez na vida, estava preparado também para aquele momento de derrota.
Terminou o ano com os dois títulos da F 2000, inglês e europeu, com os recordes de 21 vitórias, 15 poles position e 21 voltas mais rápidas.
Depois de campeão na F Ford 1 600, Senna seguiu, em 1982, o caminho natural para a F2000. Entrou como um ciclone. Venceu e fez a pole position e voltas mais rápidas nas seis primeiras corridas.
Estava quase como queria, mas tinha algo incomodando a sua aura de perfeccionista. Precisava preparar-se para perder.
Formula 3
Na Fórmula 3, o último degrau no rumo da F1, Senna repetiu o estilo fulminante da Formula Ford e F 2 000.
Como quem quer arrasar o inimigo, venceu, fez pole position e voltas mais rápidas nas nove primeiras corridas do calendário, garantindo mais um título inglês. Tornou-se assim o único tríplice coroado das fórmulas britânicas.
Era normal, portanto, que chovesse convites para testar carros da Fórmula 1. Toleman, Lotus, McLaren e Williams, fizeram as primeiras ofertas. Curiosamente, na exata seqüência que Senna cumpriu o seu destino na Fórmula 1.
O caminho da glória veio na Formula 1
Quando estreou pela humilde equipe da Toleman, na Fórmula 1, o brasileiro não escondeu sua ansiedade para correr ao lado do na época, badalado Nikki Lauda, grande ídolo na época, Alain Proust, entre outros. Mas devido a limitação de seu carro, não conseguiu subir no tão almejado pódio durantes os primeiros oito circuitos.
Só alcançando o grande objetivo no GP da Inglaterra, no dia 22 de julho de 1984, quando chegou em terceiro lugar e dividiu a vitória com Niki Lauda (McLaren-TAG) e Derek Warwick (Renault).
Ao fim da temporada, Ayrton decidiu sair da Toleman, devido às dezenas de ofertas que já havia recebido.
Em 1985, Ayrton estreou pela Lotus, e terminou a primeira temporada com duas vitórias(uma já na primeira corrida), sete poles position, seis pódios e 38 pontos, num honroso quarto lugar. Ele tinha descoberto o caminho da vitória na Fórmula 1.
O casamento vitorioso com a Lótus durou até o fim da temporada de 1987, e o resultado da temporada de despedida não poderia ter sido melhor: foi terceiro do mundo, com 57 pontos, atrás de Piquet (73) e Mansell (61). Em 1988, seria vida nova, ia começar o ciclo McLaren.
Na categoria, Senna conheceu a glória maior. O brasileiro conquistou seus três títulos mundiais pela equipe, na temporada de estréia em 88, em 90 e a mais inesquecível de todas, em 1991, com sete vitórias, doze pódios e 96 pontos, com uma corrida de antecedência.
O piloto passava a ser o símbolo do esporte brasileiro, e a razão maior para os brasileiros acordarem cedo em uma manhã de domingo.
Os dois últimos anos não renderam título ao brasileiro, mas deixaram suas corridas mais emocionantes e disputadas, com os sempre rivais Alain Proust, e Nigel Mansel.
Após a derrota em 1993, Senna se viu seduzido por uma equipe que prometia muitos títulos e se transferiu para a Williams, para disputar sua primeira e única temporada pela escuderia.
O primeiro grande prêmio pela equipe dirigida pelo amigo Frank Williams veio no Brasil, no circuito paulistano de Interlagos.
Senna que ainda usava um protótipo de seu FW16, teve problemas com o controle do carro e acabou saindo da prova, faltando pouco mais de 20 voltas. Era um começo nervoso de um piloto que não admitia erros.
Na segunda prova do ano, em Aída, Senna conquistara sua primeira pole pela Renault, mas que viu desmoronar, após sair da pista com uma batida de Mika Hakkinen e Nicola Larini ao mesmo tempo em seu carro. As esperanças se voltariam apenas para Ímola, no GP de San Marino, o seu último GP.
O mau pressentimento que não foi ouvido
Ayrton estava diferente naquela manhã de domingo. Pensativo e inquieto, mesmo largando pela primeira vez no ano, na pole ao lado de Schumacher da Benetton, Senna fez duras críticas à pista, durante o briefing habitual entre pilotos.
Estava contrariado com a ausência de Rubinho Barrichello na corrida, causada pelo forte acidente de sexta-feira, e ainda chocado com a tragédia que matou o austríaco Roland Ratzenberger (Siintek-Ford), no sábado.
Nos preparativos para entrar no carro, Ayrton permaneceu pensativo com suas mãos sob o aerofólio traseiro por mais de 10 minutos, com se soubesse que algo de ruim poderia acontecer.
Na largada, Senna assumiu a ponta e foi livrando boa vantagem em relação a Michael Schumacher. Na sétima volta a direção do Williams-Renault FW16 não obedeceu ao seu comando e foi direto contra o muro da curva Tamburello.
Ayrton Senna bateu no muro há aproximados 320km/h, provocando grave traumatismo craniano, o que desacordou o piloto na hora.
A equipe de paramédicos do circuito demorou mais de 8 minutos para chegar ao local, e tentaram reanima-lo por ao menos 16.
Sem sucesso, o piloto foi levado de helicóptero para Hospital Maggiore, em Bolonha, e teve morte cerebral declarada às 18h40 local (13h40, de Brasília).
No Brasil, 250 mil pessoas acompanharam o enterro do ídolo no dia 5 de maio, no cemitério do Morumbi.
Mais de cem mil pessoas passaram pelo velório, no salão nobre da Assembléia Legislativa de São Paulo.
Seu caixão foi levado ao túmulo por 15 pilotos e ex-pilotos, entre eles Émerson, Wilson e Christian Fittipaldi, Rubens Barrichello, Alain Prost, Jackie Stewart e Gerhard Berger.
Ao longo de dez temporadas, Senna conquistou três campeonatos mundiais, 41 vitórias, 65 poles e disputou 158 grandes prêmios.
