Petrobras pode ter compensação de US$ 21 bilhões a US$ 59 bilhões com reservas do pré-sal

Por GABRIEL VASCONCELOS, gabriel.vasconcelos@jb.com.br

O que vai pesar mais nas projeções da estatal: o ganho com a venda de poços e campos do pré-sal, sob regime de cessão onerosa, que foi liberada pela Câmara e  deve ser confirmada no Senado, ou as perdas trabalhistas, de R$ 15,2 bilhões, mais acréscimo anual de R$ 2 bilhões nos salários, definidos pelo Tribunal Superior do Trabalho,  à qual a estatal já disse que irá apresentar embargo, além de recorrer ao STF? 

Para o engenheiro eletricista Manuel Jeremias Leite Caldas, Doutor em economia pela EPGE/FGV, as projeções sobre o eventual ganho da Petrobras das reservas excedentes do pré-sal na cessão onerosa, têm dois parâmetros. Em setembro de 2010, quando do acerto do contrato, entre a União e a Petrobras, a União integralizou o aumento de capital da estatal com a cessão onerosa, cedendo os 5 bilhões de barris. Com o barril a US$ 75,53 e o dólar em torno de R$ 1,744, a União pagou R$ 72 bilhões à estatal, recebendo ações da empresa. A principal declaração de comercialidade de um campo do pré-sal, o de Franco, ocorreu em 1º de dezembro de 2014. 

Ficou definido, pela média dos poços e campos da cessão onerosa, uma estimativa que a margem líquida da Petrobras nos campos da cessão onerosa seria de US$ 8,51 por barril. Mas os valores têm de ser ajustados aos preços da declaração de comercialidade (dezembro de 2014), e corrigidos para maio/junho de 2018 (tanto a margem líquida de cada poço, como no ajuste do câmbio + 8,83% ao ano). Manuel Jeremias diz que a margem pode resultar em compensação exponencial. Se a margem líquida cair para US$ 7,50 a estatal tem de ser compensada em US$ 1,01 por barril, o que daria US$ 10,8 bilhões. Se a margem líquida cair para US$ 6, a estatal teria de ser compensada em US$ 26,901 bilhões. Ao câmbio atual, seriam mais de R$ 100 bilhões. Uma hipotética margem reduzida para US$ 3 exigiria compensação de US$ 59,054 bilhões, o equivalente a R$ 220,8 bilhões.

Mercado volátil

Tudo facilita a alta volatilidade. As ações PN giraram como biruta desde a crise dos caminhoneiros, descendo dos R$ 23,37 de 23 de maio aos R$ 15,10 de ontem (baixa de 35,38% no período). O economista-chefe da Modalmais, Álvaro Bandeira, acredita que é precipitado atribuir a queda das ações da Petrobras somente à derrota no TST. “É preciso olhar para o mercado internacional antes. Os mercados estão voláteis e os investidores querem reduzir riscos”, pondera. Ele ainda acrescenta que cravar número sobre passivos ou dividendos neste momento, é muito arriscado. “Os números de Petrobras são sempre muito altos o que torna tudo mais delicado. Fora que não tem nada decidido, nem no Congresso, nem na ação trabalhista à qual cabem recursos em várias instâncias”, afirma.

Já para o economista Gilberto Braga, professor do Ibmec, o saldo da semana é positivo à companhia. “A questão da cessão suplanta a causa trabalhista, mas aumentos de custos trabalhistas podem comprimir margens e tornar inviáveis campos maduros e de menor produção”, opina.

O professor Edmar Almeida, do Instituto de Economia da UFRJ, observa que “é preciso aplicar um olhar mais amplo. A Petrobras tem um ativo interessante, mas uma dívida enorme, pela qual paga de US$ 5/7 bilhões de juros por ano desde 2014. É muito bom ter liberdade para escolher o que fazer com aquilo que comprou”, defende. 

Almeida entende a mudança na lei de cessão onerosa não como uma ameaça, mas sim uma oportunidade. “A Petrobras não vai vender todos os campos da área porque o regime da cessão é muito interessante, com a incidência de royalties de apenas 10%. Isso as torna atraentes e eleva seus preços de mercado. A Petrobras vai poder vender fatias pequenas a alto preço, pôr dinheiro em caixa e, ainda, atrair parceiros para o retorno mais rápido na cessão”.