Eurozona aprova resgate recorde para Grécia, mas não entusiasma mercados

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A Eurozona finalmente aprovou, nesta terça-feira de madrugada, um novo plano de resgate para a Grécia, que poderá totalizar 237 bilhões de euros, mas ainda assim não foi capaz de entusiasmar os mercado nem diminuir sua cautela em relação ao país heleno.

"Alcançamos um acordo amplo que inclui uma ajuda pública e um perdão da dívida sem precedentes dos bancos credores do país, destinados a garantir o futuro da nação na zona do euro", declarou o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, à imprensa. "Esse pacto garantirá a permanência de Atenas na zona do euro", completou ele após a reunião de quase 13 horas dos 17 ministros de Finanças da Eurozona.

O acordo obtido reduzirá a dívida grega a 120,5% do PIB em 2020, disse uma fonte europeia.

A dívida equivale atualmente a 160% do PIB (350 bilhões de euros) e a meta inicial era reduzi-la a 120% até o mesmo período.

A ajuda dos credores públicos (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) se elevará a 130 bilhões de euros, divididos até 2014 e pendentes de desbloqueio desde a aprovação do segundo resgate em outubro de 2011. O primeiro resgate, concedido em 2010, foi de 110 bilhões, mas se mostrou insuficiente.

Também haverá um maior esforço na participação dos credores privados da Grécia, que aceitaram um perdão de 53,5% da dívida do país, ao invés dos 50% previstos originalmente, o que representará 107 bilhões de euros, contra 200 bilhões de euros em seu poder.

Trata-se de uma reestruturação recorde na história das finanças mundiais, que supera o default declarado pela Argentina em 2002.

A Grécia precisava dessa ajuda de maneira urgente para evitar declarar uma suspensão dos pagamentos em 20 de março, quando aconteceria seu próximo vencimento da dívida, de 14,5 bilhões de euros.

O primeiro-ministro grego, Lucas Papademos, se declarou "muito feliz" pelos resultados obtidos em Bruxelas.

"Estou convencido de que o governo cumprirá com esse programa (...) já que ele é do interesse dos gregos", afirmou.

Nos últimos dias, o governo grego cumpriu com os requisitos que lhe eram exigidos em Bruxelas em troca da ajuda: o Parlamento deu seu aval ao plano de novos ajustes; foram dadas garantias por parte dos partidos da coalizão governamental de que o plano seria cumprido, independentemente de quem ganhe as próximas eleições legislativas de abril e foram detalhados os cortes adicionais de 325 milhões de euros (nos setores de Defesa e de gastos farmacêuticos) para economizar um total de 3,3 bilhões de euros em 2012.

Segundo o comissário europeu para Assuntos Econômicos, Olli Rehn, a vigilância da Grécia por parte de seus credores será reforçada em troca do plano de resgate que deve permitir ao país evitar a quebra.

"O plano de resgate da Grécia está baseado em uma rígida condição: a de reforçar a vigilância da Grécia e impor uma presença permanente da missão da Comissão Europeia" neste país, encarregada de ajudá-lo a modernizar seu aparato de Estado, disse Rehn, após a reunião.

Por meio de comunicado, a Eurozona enfatizou a necessidade de um reforço das instituições gregas. "Para isso, prevemos o envio de uma missão de reforço permanente da troika de credores públicos", diz o texto.

Os cortes provocaram greves e protestos na Grécia, que entra em seu quinto ano de recessão e possui um nível de desemprego superior a 20% da população ativa. Os críticos do plano, por sua vez, acreditam que a Grécia consentiu com uma inadmissível perda de soberania.

Os mercados reagiram com cautela ao anúncio do novo resgate grego.

O euro ganhou terreno frente ao dólar e ao iene, mas as bolsas europeias abriram sem maiores variações e em seguida passaram a operar em queda.

Às 10H10 GMT (08H10 de Brasília), a Bolsa de Londres perdia 0,27%, a de Frankfurt -0,14%, a de Paris, -0,59%, a de Milão -0,40% e a de Madri -0,15%.

A Bolsa de Nova York abriu em leve alta. No início da sessão, o Dow Jones avançava 0,15% e o Nasdaq subia 0,18%.

Vários economistas duvidam de que o novo plano de resgate seja o último capítulo da crise grega e, portanto, da crise da dívida que há dois anos perturba a Eurozona. O temor dos analistas gira em torno do fato de que os ajustes possam comprometer a possibilidade de recuperação econômica do país.

"O plano grego continua sendo frágil e vulnerável. Inclusive pelo fato de que este acordo com a Grécia possui a maior parte de seus problemas por vir e não no passado", disse Sony Kapoor, diretor do centro de estudos Re-Define.

Um responsável do Instituto Brueghel, Jean Pisani-Ferry, considera inclusive que o plano não fará mais que adiar o inevitável, que é a saída da Grécia do euro.

A Grécia também teve que aceitar que os fundos de resgate sejam depositados de forma temporária em uma conta bloqueada para que se destinem a pagar os juros da dívida.

Os sindicatos, por sua vez, já convocaram novas manifestações para a quarta-feira na Grécia, que entra em seu quinto ano de recessão.

A chefe do partido comunista, Aleka Papariga, disse que a "vida das pessoas se converterá a um inferno" com o plano europeu.