Ibovespa deve superar bolsa mexicana, mas ansiedade sobre reformas ofusca previsões para 2020, diz pesquisa da Reuters

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SÃO PAULO, 29 Mai (Reuters) - O mercado acionário brasileiro deve registrar ganhos de dois dígitos neste ano, superando o desempenho da bolsa do México, conforme o governo do presidente Jair Bolsonaro tenta avançar com reformas econômicas, segundo pesquisa trimestral da Reuters.

O levantamento mostrou o Ibovespa subindo 27% em 2019 e encerrando o ano em 112 mil pontos, de acordo com a mediana das estimativas de 17 operadores, corretores e estrategistas.

A projeção fica abaixo dos 120 mil pontos previstos na pesquisa de fevereiro, mas ainda levaria o rali do Ibovespa desde o fim de 2015 para 160%, tornando a bolsa brasileira uma das mais bem sucedidas do mundo no período.

Contudo, crescentes incertezas em relação ao momento e ao tamanho da tão aguardada reforma previdenciária prometida por Bolsonaro nublam as perspectivas para o mercado acionário em 2020.

Apenas sete dos 17 especialistas consultados pela Reuters forneceram estimativas para a bolsa brasileira no próximo ano devido à falta de visibilidade tanto no país quanto no exterior, conforme a desaceleração econômica global e a disputa comercial iniciada pelos Estados Unidos contra a China adicionam nervosismo ao mercado.

A mediana das projeções aponta o Ibovespa em 115 mil pontos em meados de 2020, bem abaixo do nível de 132.500 pontos apurado na pesquisa anterior. A estimativa para o final de 2020 é de 125 mil pontos, o que indicaria um avanço de 33,5% em relação ao fechamento da última sexta-feira (24), de 93.627,80 pontos.

"O mercado já precificou a probabilidade de uma aprovação da reforma previdenciária este ano e agora precisa de algo mais concreto para subir mais", disse David Beker, economista-chefe para Brasil do Bank of America Merrill Lynch.

Rafael Passos, analista da plataforma de investimentos Guide, observou que a maior parte dos ganhos recentes na bolsa brasileira foi desencadeada por investidores locais. "O estrangeiro ainda está fora, esperando para ver se Bolsonaro tem o capital político necessário para aprovar essas reformas econômicas", acrescentou.

A reformulação do sistema de aposentadorias do Brasil é a espinha dorsal do programa econômico do novo governo para resolver o que muitos economistas consideram um déficit público insustentável e fomentar crescimento econômico mais vigoroso após a pior recessão em décadas.

Investidores saúdam a iniciativa, mesmo que o texto final provavelmente seja diluído em relação ao plano inicial de gerar uma economia de mais de 1 trilhão de reais em uma década com a reforma previdenciária.

Um consenso entre estrategistas é de que, assim que aprovada pelo Congresso, a medida poderia desencadear uma readequação generalizada dos portfólios em mercados emergentes.

"A Bovespa está consideravelmente descontada em relação ao que deveria ser um múltiplo justo para bolsa brasileira e também em relação aos demais emergentes, incluindo o México, mas até a materialização da reforma o dinheiro não vem", disse o analista-chefe da XP Investimentos, Karel Luketic.

A projeção para o índice de referência da bolsa mexicana, o S&P/BVM IPC, ao fim de 2019 sofreu uma revisão menor na pesquisa de maio, passando para 47.395 pontos ante 48.300 pontos em fevereiro, conforme a mediana de 12 estimativas de operadores e analistas ouvidos pela Reuters.

Quase um ano após sua eleição em julho, investidores ainda temem que o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, possa virar as costas para responsabilidade fiscal e perseguir políticas populistas que frustrem ainda mais os ganhos da bolsa mexicana.

"A saída de capital ainda não é significativa, o que dá a impressão de que os investidores estão dando ao México o benefício da dúvida", disse Guilherme Assis, estrategista do Citi.

Ele acrescentou, porém, que o México está muito mais vulnerável que o Brasil a riscos de baixa atrelados às políticas comerciais protecionistas dos Estados Unidos, incluindo as turbulências recentes causadas pela guerra comercial com a China.

"Esse protecionismo afeta mais o México que o Brasil. Se a economia americana patina, com certeza vai afetar México", disse Assis.

(Por Gabriela Mello. Com reportagem adicional de Miguel Gutierrez na Cidade do México e Paula Arend em São Paulo; Edição Alberto Alerigi Jr. e Maria Pia Palermo)