Um voo de 50 anos: do Bandeirante ao Embraer 190

Avião bimotor representa um marco na história da indústria aeronáutica nacional

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Um voo de 50 anos

São José dos Campos – A Embraer e a Força Aérea Brasileira (FAB) realizaram ontem uma cerimônia para celebrar os 50 anos do primeiro voo do Bandeirante, avião bimotor que representa um marco na história da indústria aeronáutica nacional e que levou à criação da Empresa Brasileira de Aeronáutica em 1969 para a produção em série e venda do produto.

O evento recriou a solenidade oficial de 26 de outubro de 1968, quando centenas de convidados testemunharam o voo da aeronave que partiu da pista — na época não pavimentada — de São José dos Campos, interior de São Paulo. A celebração contou com a presença do Ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna, do Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro Nivaldo Luiz Rossato, do primeiro diretor superintendente da Embraer, engenheiro Ozires Silva, e da atual diretoria e funcionários da companhia, que mudou de nome em 2010.

“O Bandeirante representou muito mais do que uma aeronave, mas um novo ciclo de transformação da indústria brasileira. Ele representa um Brasil aguerrido, capaz de unir competência, talento e inovação”, disse Paulo Cesar de Souza e Silva, diretor-presidente da Embraer. “Esta data comemorativa nos oferece uma oportunidade para agradecer e celebrar os pioneiros da Embraer e da indústria aeronáutica brasileira, os nossos próprios bandeirantes, que desbravaram as fronteiras da tecnologia aeronáutica. A Embraer é hoje uma empresa que compete em igualdade de condições tecnológicas com as maiores do mundo porque há 50 anos um grupo de engenheiros, projetistas e pilotos ousou trazer à vida um avião que virou uma lenda.”

Voo de testes

O primeiro protótipo do Bandeirante, então denominado de IPD-6504, realizou o voo de teste inaugural em 22 de outubro de 1968, com a presença da equipe técnica do projeto. O avião, pintado nas cores da FAB, deixou o hangar do X10, do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), para decolar às 7h07 e retornou para pouso 50 minutos depois sob o comando do major-aviador José Mariotto Ferreira e do engenheiro de voo Michel Cury. Só quatro dias depois o avião foi apresentado oficialmente a autoridades e jornalistas, e o voo novamente realizado, que foi até o Rio de Janeiro.

Para a construção do primeiro protótipo, decorreram três anos e quatro meses, entre os primeiros estudos preliminares e o voo inaugural. Para isso, foram gastos 110 mil horas de projeto, tendo sido executados 12.000 desenhos de fabricação, 22.000 horas de cálculo estrutural e aerodinâmico e 282.000 horas de fabricação do avião e do seu ferramental.

Novas séries a jato

A privatização da Embraer, em 1994, no governo Itamar Franco, marcou nova escalada, com seu ingresso no mercado mundial de jatos para a aviação comercial e executiva através da família ERJ-145, aeronave de até 50 passageiros. O maiorsucesso veio com os modelos ERJ-170 e ERJ-190, e ainda a versão ERJ-195, todos na faixa de 70 a 120 lugares. A Embraer superou sua maior concorrente na aviação comercial de médio porte, a canadense Bombardier, só ficando atrás da europeia Airbus e da americana Boeing.

Mas a associação entre a Airbus e a Bombardier deixou a Embraer em situação incômoda no mercado, mesmo com avanços como a construção do gigantesco cargueiro militar KC-390 que deve substituir os Hércules da FAB. Em 5 de julho, a Embraer anunciou acordo de intenções com a Boeing para a criação de joint-venture. O negócio foi avaliado em US$ 4,75 bilhões, com 20% da participação para a bnrasileira. O acordo depende de aprovação dos acionistas e órgãos reguladores de ambos os países, mas encontra resistências na questão dos aviões militares e na base de operações da empresa (dividida no país entre São José dos Campos e Gavião Peixoto, São Paulo). Enquanto aguarda o presidente eleito, a empresa criou os jatos executivos médio e super médio Praetor 500 e Praetor 600 para voar de Nova Iorque e Londres, com uma só escala.