"Para Brasil, nada muda"

Presidente da AEB, acha que país só pode ficar de espectador da guerra EUA X China

Por Gilberto Menezes Côrtes

Apesar da crise, José Augusto de Castro disse que AEB está aumentando saldo comercial

“Para o Brasil, a guerra comercial entre Estados Unidos e China, não muda nada. Somos expectadores. Só podemos cuidar de acompanhar o cenário no tabuleiro do comércio mundial”, disse ontem o presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Ele admite que as retaliações comerciais recíprocas podem encolher de “um a dois pontos o comércio mundial” e gerar menos empregos, o que impacta a demanda e o crescimento global. Como sintoma do efeito na China ele aponta a queda das bolsas chinesas a níveis de três a quatro anos.

Analisando cada segmento da pauta de comércio exterior brasileiro, o presidente da AEB disse que as receitas das commodities agrícolas (soja, milho, açúcar e carnes) e minerais (minério de ferro e petróleo) fogem ao controle do Brasil. Expressas em dólar, as cotações já caíram bastante.

A soja, principal produto de exportação do Brasil (14%) e para o mercado chinês, com vendas de US$ 27 bilhões em 2017, mesmo com a suspensão das vendas dos EUA à China e a impossibilidade de a Argentina fazer embarques, pela quebra da safra, teve queda nas cotações de 20% desde julho. Até agosto foram embarcadas 64,5 milhões de toneladas, num máximo previsto de 74 a 75 milhões de t. em 2018.

O açúcar (suprido à China basicamente pela Índia) segue em longa baixa. “As carnes perderam mercado, pelas fraudes em frango e suínos desde o ano passado, que levaram à suspensão dos embarques de carne de porco para a Rússia e Hong Kong, os dois maiores mercados importadores do Brasil”. Ainda assim, até agosto, foram vendidas quase US$ 700 milhões em suínos, 30% a menos que os US$ 1,006 bilhões de 2017, diz Castro.

No minério de ferro “os preços seguem estáveis”. No petróleo, graças às pressões do Irã, o preço do barril resiste na faixa de US$ 77/78 (contra US$ 50 há um ano). Um produto que segue no melhor dos mundos, “com demanda estável, alta de preço e o melhor câmbio” entre todas as mercadorias brasileiras “é a celulosoe, que respondeu por 4% das vendas em 2017.

Saldo nas plataformas

Apesar do quadro incerto no comércio exterior, a AEB está revendo para US$ 56 bilhões a projeção do saldo comercial deste ano (em julho a entidade previa US$ 51 bilhões). A diferença para mais veio da mudança do Repetro, na contabilização da exportação/importação de plataformas de petróleo. A AEB estima um ganho da ordem de US$ 3 bilhões nas plataformas. Quanto ao câmbio alto, a AEB considera que traz “rentabilidade, mas não competitividade ao comércio exterior”.