'El País': OMS ataca o cigarro em Hollywood

Organização não considera aconselhável para menos os filmes com cenas de atores fumando

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Matéria publicada nesta terça-feira (3) no El País, discute o poder da propaganda dos filmes de Hollywood e o excesso de fumantes em seus filmes, inclusive com classificação livre, sendo vistos por menores. A OMS considera apologia ao fumo e quer instituir medidas de censura.

Por exemplo: o personagem encarnado por Brad Pitt em O Clube da Luta é consciente de seu poder de atração: “Eu me visto como você gostaria de se vestir, transo como você gostaria, sou esperto, competente e, o mais importante, sou livre naquilo tudo em que você não é”. Tudo nele desperta suspiros. Inclusive os cigarros que saboreia. Pelo menos é isso que a Organização Mundial da Saúde (OMS) teme. 

Em um estudo divulgado nesta segunda-feira (2), a instituição relaciona várias propostas para contrabalancear a influência que os filmes em que aparecem fumantes exercem, na opinião dos adolescentes.

“O consumo do tabaco está matando seis milhões de pessoas por ano. Não estamos falando de um problema menor, mas prioritário. E os filmes são uma das últimas fronteiras que tentam aproveitar a indústria para burlar a crescente dificuldade de usar outros caminhos para sua promoção”, afirma Armando Peruga, responsável pela iniciativa Tobacco-Free da OMS. 

Segundo a reportagem, a organização quer voltar a focar neste assunto que começou a lamentar em 2009. Depois de constatar as poucas consequências de seu alerta, agora propõe quatro medidas: que os filmes com cigarros passem a ser “não recomendados” para menores; a desaparição de marcas de cigarro na tela; anúncios antifumo antes da projeção; e uma certificação nos créditos que deixe claro que a obra não foi financiada pela indústria do cigarro, como ocorreu aos milhões em Hollywood até os anos cinquenta.

Ao longo das 54 páginas de Smoke-free movies, os especialistas da OMS citam estudos realizados em vários cantos do planeta como prova das consequências negativas do fumo na telona e apontam para Hollywood como alvo principal, por sua influência chave em mercados e salas de todo o mundo. Entre outros dados, o documento afirma que 59% dos filmes de maior bilheteria exibidos nos EUA entre 2002 e 2014 continha imagens de cigarro e que 37% dos adolescentes do país que começam a fumar o fazem influenciados pelo cinema. A organização também relembra o artigo 13 da Convenção sobre o Controle do Tabaco, que convida os 180 países assinantes a realizar uma “proibição completa de anúncios, promoção e patrocínios” relacionados aos cigarros.

Mas é possível imaginar Groucho Marx sem seus charutos? O mito de James Dean seria idêntico se não fumasse emRebelde sem causa? Além disso, nos EUA em 2014, 16,8% dos idosos fumavam, segundo o centro governamental para o controle e prevenção de doenças: talvez o cinema se limite simplesmente a reproduzir a realidade. E há uma pergunta suscitada pelas recomendações da OMS: isso estaria limitando a criatividade de roteiristas e diretores?

É provável que as indústrias do tabaco e do cinema não aprovem a ideia que a OMS está fomentando. A organização quer pedir que os filmes com presença forte de cigarros não recebam subvenções públicas. “Não faz sentido que os governos que estão lutando para reduzir o consumo do tabaco permitam que seu dinheiro seja usado para o contrário”, afirma Peruga. Talvez acabe transformada em sugestão polêmica. Ou talvez não dê em nada, como outras medidas que a OMS cogitou e descartou. Não se preocupem: já virou fumaça.

Texto traduzido e baseado em matéria do jornal El País. Para ler a matéria na íntegra, basta acessar o link abaixo:

https://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/01/cultura/1454330089_597184.html