Mirantão: turismo capaz de agradar de bichos grilo ao público sofisticado

A Cachoeira da Prata tem visitação gratuita e restaurante onde é possível se servir no fogão à lenha

Por Celina Côrtes

Há 19 anos, quando o Jornal do Brasil foi fazer uma reportagem em Mirantão – distrito de Bocaina de Minas, a cerca de 1h30 de Visconde de Mauá, por sua vez distrito de Itatiaia a aproximadamente 3 horas do Rio de Janeiro – deparou-se com a seguinte cena. A delegacia, um sobradinho de dois andares, estava às moscas, a cela aberta e nenhum policial à vista. Na prateleira ao lado da cela, um vidro de mel e outro com arroz integral. 

Do lado de fora, um homem sentado na calçada se concentrava em esculpir com um canivete um toquinho de madeira. A repórter perguntou onde estavam os guardas e a resposta foi: “Não sei, acho que eles estão vindo no ônibus de Liberdade”, referindo-se a outro distrito das redondezas, sem se dar conta do duplo sentido de seu comentário. “E o senhor, quem é?”, perguntou a repórter. “Sou o preso”, respondeu o albergado Moyses de Malta, 39 anos na ocasião. 

“Mas o quê o senhor fez para ser preso?”, prosseguiu a jornalista. “Eu tinha uma pequena plantação de maconha em Maringá (região mais turística de Visconde de Mauá). Era para consumo

Drama mexicano

Entre os três guardas lotados no lugarejo, um deles permaneceu em Mirantão no seu dia de folga. Dois cavaleiros – um adulto e um menor – estavam fazendo bagunça na cidade, quando o policial, então à paisana, foi chamado no bar onde estava para acabar com aquilo. O homem foi à delegacia, vestiu seu uniforme, já um tanto alcoolizado, e seguiu atrás do cavaleiro, convocado a depor no posto policial. Os dois se sentaram frente a frente, separados por uma mesa. O policial tirou o cinturão onde estava o revólver, depositou na mesa e uma bala caiu no chão. No que ele se abaixou para alcançar o projétil, o cavaleiro pegou seu revólver e o matou.

Um dramalhão como esse causou muito alvoroço na vila. O cavaleiro fugiu, acabou preso e, pouco depois, as autoridades de segurança optaram por transferir a delegacia para Maringá. Durante este último Carnaval - festa, por sinal, imperceptível no lugar -, alguns policiais foram destacados para atuar em Mirantão. Dessa vez, o motivo foi um grave acidente de carro, que causou a morte de uma menina de 12 anos. Porém, como a maioria das histórias que circulam por ali, as versões variam de acordo com a imaginação de quem conta. Uns diziam que era uma van que transportava 10 crianças, outros, que o motorista tinha enchido a cara num baile, dormiu ao volante e despencou na ribanceira.

O fato é que a falta de assunto normalmente predominante nesse lugar onde o tempo ainda demora a passar e o Judas perdeu as botas, foi substituída por uma profusão de criativas versões. Daqui a pouco, ninguém se lembra mais do incidente e a vida retoma a calma habitual. Quem sabe, até o próximo feriadão.  

Serviço

Pousada Canto da Terra: (21) 9108-0875

Pousada Quinta da Prata: (32) 3294-2118/ 2083

Pousada Cantinho da Paz: (32) 3294-2024