Hélio Oiticica, o filme, foi exibido no Festival de Berlim

Diretor fala do documentário sobre o artista 

Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO

Hélio Oiticica, realizado por Cesar Oiticica Filho, sobrinho e curador da obra do artista, foi o destaque brasileiro ontem na Mostra Fórum do Festival de Berlim. 

O filme – que ganhou o prêmio de melhor documentário no Festival do Rio em setembro último – conta a história do artista, através de fitas K7 que ele mesmo gravou durante os anos de 1960 e 1970. 

Além dos filmes e dos tapes, o documentário é formado por outros áudios e imagens de arquivo. A proposta foi casar filmes em que aparecem os trabalhos, as influências e sua temporada em Nova York com depoimentos do próprio Hélio. 

Em entrevista ao Jornal do Brasil, Oiticica Filho contou que tudo começou há cerca de 10 anos, quando preparava uma exposição internacional sobre o trabalho do tio. 

“Na pesquisa,  descobri uma série de filmes quase desconhecidos que ele tinha realizado. Na ocasião, eu também utilizei fitas gravadas por ele, com declarações sobre sua vida e pensamentos para os amigos, inseridas agora no documentário”, explicou o diretor lamentando não ter conseguido aproveitar todo o material no filme. 

“Os tapes formam um acervo muito grande, que dariam até para fazer outro filme com os áudios que não entraram. Geralmente as pessoas só conhecem o Agripina éRoma-Manhattan, mas ele fez vários, apenas não os editou. Isso fica muito claro no Cosmococa, formado por fotos, sem edição”, complementou.  

Oiticica Filho conta que a trilha sonora é composta basicamente de músicas que permearam a vida de Hélio.   

“Seguimos essa linha, mas eu queria ter colocado também algumas coisas internacionais, porém houve dificuldade com os direitos. Numa primeira prévia do filme, havia a Sympathy for the devil, dos Rolling Stores, mas quando pedimos autorização não tivemos resposta.  Resolvemos, então, utilizar You don’t know me (de Soldiers of Jah Army – SOJA), que quase virou o título do documentário”. 

Fazendo questão de enfatizar que a experiência proposta por Hélio não se esgota no filme, Oiticica Filho resume o que significou fazer o filme. 

“Representou uma forma de entrar na vida do meu tio. Mais do que uma homenagem, Hélio Oiticica é, para nós, uma espécie de coisa de família”, declarou ressaltando a importância desta seleção na Berlinale. 

“Berlim sempre foi minha meta e é o melhor lugar para o filme estar. Estou achando incrível ter a première internacional aqui”, afirma o diretor de   

Além da sessão com o filme na Fórum Expanded –  destinada a discutir novos campos e espaços entre cinema e arte – a programação dedicada a Hélio Oiticica inclui um painel de discussões sobre sua obra com o historiador de arte Sabeth Buchman e apresentação de uma seleção de filmes Super 8 históricos realizados por ele. 

A experimentação da instalação Cosmococa, que convida a audiência a mergulhar em imagens e sons dentro de uma piscina, também faz parte do tributo.