Crítica: "Marcados para morrer"
O novo filme de David Ayer vem confirmar a preferência do diretor por temáticas ligadas à cultura de rua dos EUA. Com um currículo de cerca de 10 longas - que assina como roteirista e/ou diretor - apenas um não trata do tema. Todos os outros abordam de uma maneira diferente a urban culture de grandes cidades americanas, ora mostrando o lado da polícia, ora mostrando o universo de bandidos e contraventores.
Marcados para Morrer é a terceira direção do americano de 44 anos e conta a história de Brian e Mike, dois policiais do Depto de Polícia de Los Angeles que utilizam a coragem e o dever cívico como farda. Essa qualidade, no entanto, acaba se tornando seu maior problema, pois coloca os dois no meio de uma perigosa investigação federal que envolve cartéis do crime organizado internacional. Na pista dos cabeças de um esquema milionário de tráfico de pessoas, os dois acabam jurados de morte e passam a ser caçados por criminosos fortemente armados.
Com uma linguagem que beira o documental no ritmo, o filme se propõe a mostrar o cotidiano de dois parceiros de polícia. Essa pegada, no entanto, acaba resultando numa cadência um tanto lenta da narrativa, que contrasta bastante com sequências de ação inesperada e despretensiosamente bem filmadas, responsáveis por fazer o espectador desencostar da cadeira e se envolver de verdade com o trabalho dos policiais. Esse ritmo repleto de altos e baixos da condução dramática do filme pode dar a alguns a impressão de que nada acontece ou se desenvolve, o que é um grande risco para qualquer filme.
O que pode salvar o longa para aqueles que não curtem filmes com uma pegada quase jornalística é o trabalho apurado de Jake Gyllenhaal e Michael Peña como os policiais Brian e Mike. Ambos souberam dar, na medida, a profundidade necessária à relação dos parceiros com seu ofício, o que impediu que seus personagens fossem alçados a figuras de heróis sem lembrar-se antes da figura de policiais que possuem algo a perder com a prática da profissão.
A maior conquista de Ayer no filme inteiro é conseguir capturar as diferenças existentes nos diversos "guetos" que confrontam-se diariamente em toda cidade grande. Na tela o espectador percebe a rixa entre imigrantes, a amizade entre imigrantes, a civilidade entre vizinhos, a briga entre iguais... Ao mesmo tempo em que vê a polícia tentando garantir a paz e manter a ordem em meio a tudo isso.
Cotação: ** (Bom)
