Crítica: 'A delicadeza do amor'
Adaptado do bem sucedido romance do escritor francês David Foenkinos, que assina também a direção ao lado de seu irmão Stéphane Foenkinos, o filme conta a história de Nathalie (Audrey Tautou, de O fabuloso destino de Amélie Poulain), uma moça com uma vida e casamento perfeitos, até que perde seu marido, François (Pio Marmaï, de O primeiro dia do resto de sua vida) num acidente e vê-se sem chão após o trágico evento. Depositando as energias em seu emprego, Nathalie ignora por três anos quaisquer possibilidades de romance. Um dia, sem mais nem menos, como que numa espécie de transe, ela beija o homem mais inesperado - seu colega de trabalho, Markus (François Damiens, ator de Como Arrasar um Coração). Juntos, Nathalie e Markus embarcam numa jornada emocional, que suscita todos os tipos de questões e hostilidade no trabalho e entre amigos.
Sem dúvidas, o personagem de Markus é responsável pela engrenagem do filme após o primeiro ato, período de luto de Nathalie, mais carregado de drama. Markus é a personificação de um homem excêntrico: é feio, esquisito, possui um trabalho burocrático e sem graça, tal qual suas roupas. Entretanto, revela-se um verdadeiro gentleman, um homem sensível (com potencial para poeta) e engraçado, mas que sofre preconceito por sua aparência. E é por esse homem por quem, lentamente, Nathalie se apaixona.
O adjetivo contido no nome do filme faz jus a ele em todos os aspectos. A delicadeza do amor é, verdadeiramente, delicado. Muito disso se deve à apresentação de seus personagens, feita com profundidade, leveza e uma excelente dose de comédia: o foco do filme são Nathalie e Markus - que dividem o protagonismo de maneira bastante equilibrada, ainda que a história se inicie a partir da moça -, mas se percebe com facilidade que, em geral, conhecemos cada um deles eles em sua essência. Qualidades, defeitos, momentos de fraqueza e de glória, os integrantes desta história são plenos, não há disfarces em sua caracterização.
Dentre tantas questões interessantes sobre o filme, é admirável a maneira como nele o tempo é tratado. No registro da passagem do tempo diegético (ou seja, de dentro do universo ficcional), é belo notar como esta é diferente dependendo do enfoque que se queira dar a um momento específico. Exemplo: o tempo que leva para Nathalie se recuperar da perda do marido e recomeçar a vida não se dá de uma hora para a outra nem para a personagem, nem para nós, espectadores, porque exige essa lenta transição, correspondente à fase difícil por que a personagem está passando. Por outro lado, é veloz (além de suave e poético) o salto temporal que ocorre na cena entre o pedido de casamento de François para Nathalie e o casamento em si - através de efeitos especiais, acompanhamos o mudar do tempo da narrativa, no que seria um plano sequência (quando não há cortes de uma cena para outra) - que pode ser interpretado como um momento que passou com rapidez, em toda a sua plenitude e importância, como na impressão real de que “tudo que é bom dura pouco”.
Em poucas palavras: este será, com certeza, um dos filmes mais belos e essencialmente humanos do ano de 2012.
Cotação: **** (Excelente)
