Charlize Theron: 'Prometheus' não é filme só para nerds
A sul-africana Charlize Theron construiu uma carreira incrivelmente variada como atriz e modelo, alcançando a fama no final dos anos 1990 antes de ganhar um Oscar por sua interpretação da serial killer Aileen Wuornos em Monster - Desejo Assassino.
No final dos anos 90, ela estrelou Celebridades, de Woody Allen, Advogado do Diabo, Poderoso Joe eRegras da Vida. Desde a conquista do Oscar, em 2003, Theron tem sido muito procurada, e trabalhou em projetos tão diversos como Terra Fria, Æon Flux eHancock.
Mais recentemente, na comédia Jovens Adultos, de Jason Reitman, ela interpretou Mavis Gary, escritora de 30 e poucos anos que volta à sua cidade natal para tentar retomar o relacionamento com seu namorado de colégio, agora casado e com um filho.
Charlize Theron interpreta Vickers em Prometheus, que marca a volta de Ridley Scott à ficção científica. Do set de filmagem nos Estúdios Pinewood, ela fala sobre esse trabalho.
Como você apresentaria a história de Prometheus?
Bem, você está tentando me colocar em apuros! Acho que podemos dizer que este é um filme independente de ficção científica em que Ridley usa o DNA de Alien, mas tem valor próprio. Trata de todas as grandes questões para as quais não temos respostas, como: 'De onde viemos?', 'Aquilo em que acreditamos é seguro?', 'Somos capazes de manter nossas crenças quando há evidências que provam o contrário?'
Quanto do DNA de Alien você acha que sobrevive em Prometheus?
Para mim, compete aos espectadores fazer a conexão entre os dois filmes. O que é ótimo nisso é que você não precisa ser fã de Alien para assistir a Prometheus. Os fãs, todos aqueles nerds, vão exclamar: "Uau, entendi!". Mas ainda penso que Prometheus é realmente um filme com valor próprio.
Você trabalhou em ficção científica no passado. Gosta do gênero?
Bem, fiz um filme, e foi tudo! Trabalhei apenas numa ficção científica, Æon Flux, durante estes quinze anos em que sou atriz. Mas eu amo o gênero e penso que uma boa história está acima de qualquer gênero. Acredito mais em histórias bem contadas do que num gênero específico. Por isso gosto de trabalhar com Ridley Scott, porque ele é um cineasta estimulado por histórias e pelas motivações das pessoas, e levanta questões reais. Para mim, esse é o núcleo de um filme.
Ridley redefiniu o gênero com Alien e Blade Runner.
Podemos esperar o mesmo de Prometheus? Sim, claro. Ridley é um dos grandes e penso que, quando trouxe a ficção científica de volta, acrescentou um monte de ideias originais a ela. E se sente muito à vontade com esse gênero. Penso que o público vai ficar muito satisfeito com o que Ridley está fazendo agora. A história é ótima e possibilita o uso de todas as habilidades do diretor. Os personagens são fantásticos, e sustentam o núcleo da história. Uma combinação como essa é exatamente aquilo que as pessoas procuram. Penso que a tendência hoje em dia, em ficção científica, com os grandes orçamentos, é fazer sets gigantes, espetaculares, e histórias sem conteúdo. Penso que a narrativa deve conduzir todo o grandioso aparato dos filmes de ficção científica.
Ridley é um diretor preciso. Como tem sido a experiência de trabalhar com ele?
Inacreditável. É por isso que eu queria fazer este filme. Passei minha carreira pensando: "Se eu tiver a chance de trabalhar com Ridley Scott, vou agarrá-la num piscar de olhos". Ele é a razão pela qual eu queria participar de Prometheus, é um dos poucos grandes diretores que nós, quando olhamos o conjunto de sua obra, não conseguimos fazer outra coisa senão indagar como seria a experiência de trabalhar com ele. A minha experiência tem superado as expectativas. Ele é um diretor de atores. Ama os atores, está muito sintonizado com eles e com o modo como trabalham. E tem excelente instinto. Tem um grande senso de como explorar o que temos de melhor, o que é realmente fantástico. Não há uma só maneira de trabalhar, existem várias e ele quer explorar todas. É uma constante abertura de camadas, o que para um ator é realmente fantástico.
Quem é Vickers?
Ela trabalha para a Corporação Weyland, que financia a missão. E está satisfeita com o papel de funcionária corporativa que tem evidência e que não se importa, necessariamente, em colocar alguém, em especial ela mesma, em perigo. No início da história é muito guiada pelo poder que tem por trabalhar para a corporação, e tenta controlar todos para que façam o que ela quer que seja feito. É um tanto enigmática, você não consegue entender quais são realmente seus sentimentos. No começo você acha que ela age assim apenas por necessidade da empresa. Mas, sendo este um filme de Ridley Scott, há muito mais do que isso, que não virá à tona até o fim do segundo ato e o início do terceiro ato. Ela se revela mais para o final do filme e é uma revelação muito boa. É uma agradável surpresa no filme.
Como a tripulação a trata?
Eles antipatizam com a personagem desde o início, porque estão lá para fazer algo bastante difícil e ela não facilita as coisas. Ao contrário, complica, burocratiza. Tem certo poder que atrapalha os cientistas que participam da missão para tentar descobrir algo inédito. Além disso, ela não joga confetes em ninguém. Não está ali para fazer amigos. Trata-se de uma pessoa muito, muito isolada.
Até que ponto você pensa nos temas propostos pelo filme quando está no set?
Não acredito que eu seja capaz de falar nisso! Bem, penso que todos os personagens precisam chegar a algum entendimento, uma vez que são confrontados com a realidade e com os fatos que descobrem e veem. Todos têm de questionar sua crença anterior, de quem são e de onde vêm, se há uma base religiosa ou científica para essas ideias. Todos vão questionando essas coisas ao longo do filme.
