Mostra expõe fotografias ligadas ao Rio Grande do Norte

Por

Sthephani Dantas, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - Há 20 anos, Ricardo Junqueira saiu de Brasília em direção à cidade que considerava ser a Meca do mercado de trabalho em fotografia, São Paulo. Depois de alcançar o espaço que gostaria, percebeu que o que realmente importava era qualidade de vida e decidiu se mudar para Natal, no Rio Grande do Norte. À época ninguém entendeu muito bem, mas ele se defendia dizendo que poderia trabalhar de onde fosse o que de fato aconteceu, já que ele continua publicando suas fotos em revistas de circulação nacional e trabalhando com fotografia publicitária e de editoriais. Vivendo lá, entretanto, Junqueira percebeu que o resto da país conhecia muito pouco do que se produzia de cultura contemporânea no Nordeste, de maneira geral, e no Rio Grande do Norte, em particular.

Assim, o fotógrafo reuniu trabalhos de amigos e colaboradores e organizou a exposição Coletivo potiguar: fotografia contemporânea Imagens da esquina do Brasil, com abertura dia 10 de novembro, na Caixa Cultural.

Encontro com o público

A mostra reúne 70 fotografias de Numo Rama, Jean Lopes, Jean Frota, Erik Van Der Weijde, Karen Montenegro, Hugo Macedo, Max Pereira, Pablo Pinheiro e do próprio Ricardo Junqueira. A seleção das imagens levou em consideração a necessidade de mostrar quão ampla é a atuação desses profissionais na região. Não era preciso que os fotógrafos fossem potiguares, mas que o Rio Grande do Norte tivesse importância na vida profissional e/ou pessoal dos artistas.

Essencialmente, o que mais me interessava é que fosse um trabalho criativo e autoral, voltado para a arte contemporânea explica Junqueira. Apesar do requisito comum, são nove fotógrafos com trabalhos completamente diferentes.

As fotos variam no estilo (do preto e branco à saturação de cor) no tratamento (algumas tem intervenção, outras não) e no tamanho na exposição (variando de 40 x 70cm até 1,75m de comprimento). Todos os artistas, exceto Numo Rama, que está no exterior, têm presença confirmada na abertura, o que Junqueira considera essencial:

O mais interessante é que não só damos visibilidade ao trabalho que é feito no Rio Grande do Norte, como fazemos contatos e temos a possibilidade de encontrar o público, conversar com as pessoas e trocar experiências diz o curador.

Antes de vir para o Rio, a exposição passou por Brasília e São Paulo, onde foi bem recebida por crítica e público. E o tal intercâmbio já vem rendendo frutos.

Já recebemos convites para outros trabalhos e exposições. O que mais me chamou a atenção foi o interesse do público pelo que se produz no estado. Há pouca informação, mas sinto que demos um grande passo em direção ao reconhecimento conta Junqueira.

O fotógrafo considera que o mercado para fotografias artísticas está melhorando, embora ainda não o suficiente para que se consiga se viver só desse ofício.

De todos nós, apenas Erik Van Der Weijde, um holandês casado com uma potiguar, se sustenta com as fotos autorais que tira, já que tem financiamento de uma fundação holandesa relata. Investir em fotografias ainda é comum só em países do Primeiro Mundo. Mas isso está mudando. Há cinco anos, não imaginava vender uma foto para alguém pendurá-la na sala de casa. Hoje em dia, isso já acontece até com relativa frequência.

Para que se crie uma cultura fotográfica no grande público, projetos educativos são fundamentais. Por isso, a exposição tem certo caráter didático e inclui a produção de um livro, de um CD-ROM e de material educativo que seria distribuído entre curadores, colecionadores, museus, escolas, bibliotecas públicas e outras instituições. Além disso, estão programadas palestras e oficinas com os artistas durante a temporada no Rio.