Luiz Carlos Lacerda comanda vídeo sobre bairro boêmio mineiro

Por

Taís Toti, Jornal do Brasil

BELO HORIZONTE - Santa Tereza é um bairro boêmio e ponto de encontro dos artistas da cidade. Não estamos falando do bairro carioca, grafado com s, mas do homônimo recanto belo-horizontino que celebra 111 anos e será homenageado terça-feira no encerramento da Mostra CineBH. Além de homenagens a personalidades do bairro um dos mais antigos de Belo Horizonte e o lançamento do livreto do jornalista Luis Góes sobre os 25 anos da Associação de Moradores do Santa Tereza, será exibido um vídeo feito pelos alunos de uma oficina de curta documental promovida pela Mostra, resgatando a história e tradição do bairro para mostrar como começou o cenário e a inspiração do cinema, da boemia, da música, e do teatro .

Santa Tereza é um bairro extremamente rico em contradições analisa o cineasta Luiz Carlos Lacerda, instrutor da oficina de realização de curtas. É um lugar boêmio, da história cultural, berço de movimentos como o Clube da Esquina. O pessoal do Sepultura e do Skank saiu todo mundo daqui. Ao mesmo tempo, é um bairro com uma desigualdade social muito grande. Há, por exemplo, um conjunto de prédios chamados de Torres Gêmeas e que concentram a população pobre.

Lacerda, diretor de For all (1997) e Viva Sapato (2004), é carioca e conhece bem os bairros homônimos do Rio e de Belo Horizonte. E diz ser possível ver semelhanças entre as duas vizinhanças.

São muito parecidos, ambos são extremamente boêmios e concentram um grande número de jovens e também de velhos, o que é outra contradição. A juventude está presente na noite, e de manhã a gente vê a pracinha cheia de velhos.

Entre os senhores que frequentam a praça do Santa Tereza (lá se fala o Santa Tereza), Lacerda destaca um senhor de 100 anos, que inclusive foi entrevistado para o curta. Para o cineasta, a história do Santa Tereza se confunde com a fundação de BH, por ser um bairro muito antigo apenas um ano mais novo que a cidade, que completa 112 anos em dezembro.

Os 35 inscritos na oficina tiveram apenas cinco dias, entre pesquisa, roteiro, filmagens e edição.

É uma pauleira. Mas é menos sofrível que ficar esperando resultado de projeto do Ministério da Cultura e saber se foi escolhido ou não brinca Lacerda.

A organização dos oficineiros que fazem o documentário se deu nos moldes de uma equipe profissional, tendo cada um sua função específica. Os dois artistas plásticos inscritos na oficina, por exemplo, se encarregaram da direção de arte, escolhendo os melhores fundos para as filmagens. Alguns até são promovidos .

O garoto que agora é nosso editor de imagens começou como aluno da oficina, desde a primeira edição lembra o diretor.

Luiz Carlos Lacerda realiza a oficina desde a primeira edição da Mostra CineBH, em 2006, e diz que é a única que tem resultado prático , já que sempre produz junto com os alunos, ao final, curtas com temáticas sobre a cidade.

Ano passado o tema foi o Cine Santa Tereza, um cinema que está para ser tombado e que toda comunidade pede para ser reativado. Foi reformado pela produção do festival mas continua parado, funcionando apenas durante o CineBH. Foi meio um filme-manifesto, mostrando os cinemas que terminaram na capital mineira e a luta da população.

Há três anos realizando curtas sobre a história de Belo Horizonte, o carioca Lacerda não vê dificuldade em documentar a cidade, e diz que sempre esteve em contato com a cultura mineira, tendo feito filmes sobre mineiros ou inspirados na obra deles.

A cultura mineira é muito forte e está intimamente ligada à cultura brasileira em geral. Não se pode dizer que Carlos Drummond de Andrade, Milton Nascimento e Guignard sejam apenas mineiros. Talvez a ausência do mar crie um ensimesmamento, e as pessoas ficam muito voltadas para a criação cultural. A geografia provoca um processo criativo em todas as áreas, na música, no cinema, nas artes plásticas.

Taís Toti viajou a convite da Mostra CineBH