Montreal aplaude o tom humanista de 'Waffensttillstand'
Daniel Schenker, Jornal do Brasil
RIO - A Mostra Competitiva do Festival des Films du Monde, de Montreal, trouxe ao público em sessões consecutivas dois universos distintos, embora tendo em comum o objetivo de buscar uma sintonia com o grande público. O primeiro longa, o alemão Waffensttillstand (Ceasefire), filme de estreia de Lancelot Von Naso, mostra a via-crúcis de um pequeno e idealista grupo de médicos e jornalistas que se atreve a viajar até Fallujah, no interior do Iraque, durante um breve cessar-fogo, em 2004; o segundo, o suíço Die standesbeamtin (Will you marry us?), de Micha Lewinsly, é uma comédia romântica centrada no reencontro de dois amigos que descobrem ter muito mais afinidades entre si do que com os parceiros com quem estão envolvidos no momento.
Em Waffensttillstand, Von Naso conjuga o teor documental, em especial no modo como registra panorâmicas de cidades reduzidas a escombros, com as ferramentas do entretenimento, ao inserir considerável dose de tensão no enfoque da arriscada jornada travada por seus personagens e ao brincar com determinados clichês, a exemplo da maneira como propositadamente sublinha para o espectador que o motorista que conduz o grupo até Fallujah pode não ser confiável.
É um trabalho ficcional. No entanto, procuramos soluções visuais bastante realistas. Não queríamos que fosse apreciado apenas como um filme de gênero disse Lancelot Von Naso, que não filmou no Iraque e sim no Marrocos, onde enfrentou uma sucessão de dias chuvosos. É fundamental, porém, que a plateia acredite que as locações são no Iraque.
Após a sessão, espectadores saudaram o teor político humanitário transmitido pelo cineasta.
Costumamos ver filmes americanos realizados sob perspectiva americana. Eu quis investir num outro lado: o de europeus que se esforçaram para ajudar as vítimas da guerra ressaltou Von Naso.
Já em Die standesbeamtin, Micha Lewinsky (que representou o filme em Montreal ao lado da mulher, a atriz Oriana Schrage, que integra o elenco) segue à risca a cartilha do entretenimento-padrão. Não há nada na tela que o espectador já não tenha visto em muitas produções: os personagens portadores de um passado em comum que se reapaixonam, acentuando as crises em seus relacionamentos, a figura da melhor amiga encarregada das cenas mais engraçadas, o esforço em extrair efeito cômico através da repetição de situações. O público presente ao Cinéma Impérial aprovou com louvor o cinema digestivo de Lewinsly. Não é de se estranhar, porém, que pouquíssimas perguntas tenham surgido durante a coletiva de imprensa.
* De Montreal, Canadá, especial para
o Jornal do Brasil
