Guitarrista de Janis Joplin, Sam Andrew fala sobre tributo a Woodstock

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Leandro Souto Maior e Ricardo Schott, Jornal do Brasil

RIO - O guitarrista Sam Andrew, lendário fundador da Big Brother and the Holding Company, vai empunhar a guitarra mais uma vez junto dos integrantes originais do mítico grupo que acompanhou Janis Joplin no início de sua carreira. Ao lado de Peter Albin (baixo) e Dave Getz (bateria) mais a cantora porto-riquenha Sophia Ramos ele recupera Down on me, Combination of the two, Summertime, Turtle blues, Ball and chain, Piece of my heart e outros clássicos que registraram em suas primeiras e definitivas versões. O revival acontece no evento Heroes of Woodstock, que percorre dezenas de cidades americanas a partir desta sexta-feira e é estrelado por um punhado de artistas em busca do revival da música e do espírito da época.

O grupo continua muito ativo e vibrante garante Sam Andrew, em entrevista ao Jornal do Brasil. Sophia Ramos é muito talentosa. E temos os músicos fundadores, que são a ponte para o passado, mas que continuaram fazendo música até hoje.


Sam Andrew e Sophia Ramos

Os 40 anos de Woodstock o festival aconteceu entre 15 e 17 de agosto de 1969 estão sendo revisitados pelo mundo. Para o guitarrista, o espírito daquela época ainda resiste e o revival está longe de ser uma forçação de barra .

Nunca houve uma celebração de aniversário do Woodstock, o que certamente fará desta um encontro especial para reviver a paz e o amor. Inevitável que seja muito divertido aposta Andrew. Tem muita gente ali que foi negligenciada nas críticas posteriores ao festival, como Richie Havens e Arlo Guthrie. Jimi Hendrix é demais, com certeza, mas acho importante rever outros artistas que estiveram por lá e mereciam mais destaque.

O BBHC já participou de outro evento hippie-comemorativo, ao lado de Jefferson Starship, Canned Heat, Ten Years After e Country Joe, no aniversário dos 40 anos do Verão do Amor, de 1967.

Foi sensacional, repleto de gente de todas as idades.


Janis e Sam nos anos 60

Andrew por pouco esteve no mítico palco do festival em 1969. Janis Joplin já não era mais escudada pela Big Brother and the Holding Company, com quem começou a carreira três anos antes. Estava numa fase de transição de banda.

Ela me chamou para tocar em Woodstock, mas eu tinha que voltar para a Califórnia e retomar as atividades com o Big Brother recorda o guitarrista de 67 anos. Depois que deixou o grupo, ainda a acompanhei na Kozmic Blues Band. Janis estava indecisa, tentando definir sua nova banda, e acho que nunca chegou a descobrir a formação ideal. Acabou formando outra, a Full Tilt Boogie.

A saída da praticamente insubstituível Janis Joplin não fez com que o grupo encerrasse as atividades. O BBHC já existia antes da entrada da cantora. E, registre-se, a primeira impressão que causou nos garotos que esperavam dela uma autêntica rock star foi uma decepção.

O músico diz que, ao chegar em São Francisco vinda da rural Port Arthur, Janis ainda era uma típica texana, só que desleixada e com um olhar maluco. E que, quando começou a cantar, tudo explodiu.

Janis é realmente um fenômeno, do mesmo naipe de uma Billie Holiday classifica. Desde então, a banda continuou ativa, com diversas grandes cantoras, como é a atual Sophia Ramos, que faz as pessoas chorarem quando solta a voz. Passamos por altos e baixos da história do rock, até pelos punks no fim da década de 70. Éramos tão loucos quanto eles.

Fascinado pelo Brasil, Sam Andrew espera fazer o caminho que a amiga Janis Joplin trilhou no verão de 1970 e realizar um velho sonho de conhecer o país.

Falo e escrevo muito bem em português e vislumbro visitar o Brasil para aumentar meu conhecimento sobre a cultura daí. De Orfeu Negro até a bossa nova, sempre corri atrás de tudo o que viesse de seu país revela o guitarrista. A ida da Janis ao Brasil a marcou definitivamente. Ela falava muito disso, e se apaixonou perdidamente por um brasileiro (Serguei, claro), um romance que representou bastante para ela.

A volta dos que foram... e dos que não foram

Mesmo sumido há um bom tempo, o cantor norte-americano Country Joe McDonald foi uma das grandes estrelas de Woodstock graças à ousadia de fazer a plateia do evento em 1969 gritar a palavra fuck! três vezes e a seu hit anti-Vietnã, I-feel-like-I'm-fixin'-to-die rag. Hoje, é um dos nomes obscuros do festival confirmados para um dos eventos não-oficiais de tributo a Woodstock. Heroes of Woodstock, que já teve datas em junho, volta nesta sexta-feira (no Genesee Theatre, em Waukegan, Illinois) e prossegue pelo próximo mês. No icônico 15 de agosto, data em que o festival de 1969 começou, Heroes senta praça justamente no Bethel Woods, teatro no marco fundamental do festival, no Condado de Bethel, NY.

A lista de artistas confirmados inclui, além do Big Brother and the Holding Company, bandas históricas cujas formações estão completamente desfiguradas. É o caso do Jefferson Starship, encarnação setentista do mitológico Jefferson Airplane, hoje comandado pelo vocalista Mickey Thomas, e que apresenta só sucessos do JA, como Volunteers e Somebody to love, antes divididos pelos vocalista Marty Balin e Grace Slick. O Ten Years After vem desfalcado justamente de sua maior sensação, o guitarrista Alvin Lee, em carreira solo desde os anos 70 e substituído pelo jovem guitarrista Joe Gooch, nascido em 1977. Outra banda que se esforçará para manter a bandeira de Woodstock hasteada é o Grateful Dead, que retorna com uma formação liderada pelo tecladista Tom Constanten, que pertenceu ao grupo entre novembro de 1968 e janeiro de 1970.

Para o 15 de agosto fala-se em Levon Helm Band, Canned Heat (sem os fundadores Alan Wilson e Bob Hite, mortos) e Mountain (uma das menos modificadas o desfalque é o baixista Felix Pappalardi, morto em 1983). Artistas como Melanie, Arlo Guthrie e John Sebastian, praticamente desaparecidos após 1969, também são relacionados para algumas datas.

Outras comemorações são marcadas pelo comitê Musicians for Peace, que se prepara para fazer os autopropalados eventos oficiais do festival, com uma série de bandas-tributo. O grupo tem por trás um dos financiadores do festival de 1969, Artie Kornfield. O site assegura que Michael Lang (idealizador de Woodstock) está interessado em nossa proposta para um espetáculo que ele planeja fazer em Nova York .