Morre a viúva de Walter Moreira Salles
Hildegard Angel, JB Online
RIO - Morreu na madrugada passada, no horário aproximado da meia-noite, no Hospital Sírio e Libanês, em São Paulo, Lucia Moreira Salles, a viúva do banqueiro Walter Moreira Salles, fundador do Unibanco. Lucia padecia de um câncer no intestino e nos ovários e estava já há mais de um mês hospitalizada incógnita, registrada no hospital com nome fictício, receando qualquer repercussão de seu problema de saúde. Apenas alguns amigos muito próximos sabiam de seu estado de saúde. Ela também evitou as visitas, segundo contam amigos antigos que, sem sucesso, tentaram vê-la em seus últimos momentos. O enteado Pedro e Mariza Moreira Salles, porém, estiveram no hospital esta semana.
Antes de se casar com o então mais poderoso banqueiro do país, Lucia teve uma vitoriosa carreira de modelo no exterior, usando o nome Lucia Curia. Com grande sucesso na Itália, onde desfilou para, entre outros, Valentino, que se tornou seu grande amigo. Lucia era chamada de "Lutia", transformando-se o C em T, conforme a pronúncia italiana. Quando achava que sua carreira de modelo já havia terminado, ela iniciou a viagem de volta ao Brasil, passando antes por Paris, onde sua amiga Vera Barreto Leite a apresentou a Chanel, que, encantada com sua classe e com suas medidas, fez dela modelo exclusiva da maison, realizando as provas dos vestidos do atelier. Lucia tornou-se grande amiga e secretária de Chanel.
Alegre, desembaraçada, comunicativa e boêmia, Lucia Moreira Salles transformou-se completamente, passando a ser uma pessoa reservada e contida, depois de seu casamento com Walter, que, de acordo com os mais próximos, não prestigiava seu passado de modelo e não aprovava que a chamassem de Lutia. Voltou a ser Lucia, com C. Casada, Lucia afastou-se das antigas amizades de seu tempo de modelo, mantendo porém até o final da vida a amizade com o costureiro Valentino, a quem, aliás, ela apresentou o brasileiro Cacá de Souza, que se tornou modelo, amigo favorito, executivo e compadre de Valentino, padrinho de seus dois filhos.
Lucia mantinha um apartamento em Nova York, onde costumava passar mais tempo até do que na cobertura da Avenida Atlântica, no Edifício Golden State, posteriormente rebatizado de Edifício Presidente Tancredo Neves, antigo morador o prédio. Dona de casa sofisticada e caprichosa, ela mantinha um florista trocando, regularmente as flores da decoração de sua casa, que deviam estar sempre frescas e viçosas.
O corpo de Lucia foi levado, pelo seu irmão, Miguel Curia, para Porto Alegre, para ser enterrado no túmulo da família, ao lado de sua mãe, como ela pediu. Partiu discretamente, como queria.
