Filme 'Vingança' marca estréia da atriz Bárbara Borges no cinema

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Hugo Cals, JB Online

RIO - Uma jovem de uma cidade do interior do Estado de Porto Alegre percebe que foi vítima de um estupro ao acordar, com vísiveis ares de transtorno, na beira de um rio com a maquiagem borrada e o vestido rasgado. Seu noivo, o misterioso Miguel (interpretado por Erom Cordeiro, famoso por ter vivido o caubói gay Zeca na novela global América) então ruma para o Rio para procurar o autor do crime. Chegando à cidade, ele se envolve com uma mulher, a riquinha Carol (vivida por Branca Messina) que nada sobre o seu passado, que passa a ter com ele uma relação problemática, que pode atrapalhar o cumprimento de seu objetivo. Filme de gênero, o suspense Vingança, que após ser exibido nos festivais do Rio, Gramado e São Paulo, estréia em circuito nacional nesta sexta-feira, dia 21. O primeiro longa-metragem de ficção do diretor Paulo Pons marca também a estréia no cinema da atriz Bárbara Borges, famosa por papéis televisivos, e ganhou destaque por ter sido rodado com apenas R$ 80 mil, quantia irrisória se comparada a maioria das produções nacionais lançada comercialmente durante este ano.


Pôster do filme | Foto: Divulgação

Vingança retrata uma história de violência que começa em uma cidade do interior e termina na segunda maior cidade do país. A trama é cheia de reviravoltas, onde nem sempre as coisas são o que parecem: seguindo os moldes de thrillers, os detalhes são revelados aos poucos mantendo o interesse do espectador com o seu ar de mistério. Quem se destaca em uma participação de apenas alguns minutos, é o veterano José de Abreu, que interpreta o pai de Bárbara Borges, que ao entregar uma arma a personagem Miguel e pedir que ele execute quem estuprou sua filha, afirma que está indo embora do Rio porque para "um gaúcho velho a cidade está muito violenta". Segundo Bárbara, este fato reflete a violência no país atualmente, que não está mais concentrada em nenhuma localidade específica.

- A história de violência retratada no filme poderia ter acontecido em qualquer cidade. Tanto que algumas jovens que se identificaram com o filme, em sessões no Rio e em São Paulo, fizeram contato com o diretor. A mensagem do filme não é restrita ao estupro da personagem Camilla (interpretada por Bárbara). É também um retrato da impossibilidade da relação de algumas pessoas que se amam e que são separadas por um ato de violência - afirmou a atriz em conversa por e-mail com JB Online.

Apesar do baixo orçamento, Vingança em nada deve a grandes produções. Como afirmou o diretor Paulo Pons durante a exibição do filme no festival do Rio, no Brasil existe mão de obra, talento e tecnologia para realização de filmes, o suficiente para a realização de qualquer projeto.

- Um diretor só se dispõe a realizar aquilo que previamente o seu orçamento permite. O problema é que em toda e qualquer produção problemas imprevisíveis são a regra, e um dia calmo e sem sobressaltos, a exceção. De modo que a grande dificuldade está em concluir metas e finalizar processos diários. A diferença, no caso de uma pequena produção (a nossa é literalmente mínima, não custa lembrar), quando os problemas surgem, você tem de resolvê-los de diversas formas, é preciso improvisar. Em grandes produções, você resolve pequenas questões com dinheiro. Mas elas são milhares. É mais uma questão de saber o quanto de força física e moral você está disposto a aplicar no teu projeto. É mais desconfortável fazer um filme com pouco dinheiro, mas não é mais arriscado. Com um filme de R$ 80 mil, você aplica toda a tua ansiedade e suas expectativas no resultado artístico e pessoal do projeto. Porque você não está ganhando bem pra isso. Na maior parte das vezes, você inclusive esta pagando por isso. De resto, fazer um bom filme depende de pessoas, não de dinheiro. Rodar Vingança com R$ 80 mil foi indiferente no que se refere aos seus resultados. Na briga por uma vaga nos principais festivais do país ganhamos de produções milionárias, por exemplo. O prazer que experimentamos por ter feito esse filme não tem nada a ver com o dinheiro que dispunhamos para sua realização.

Bárbara Borges e Paulo Pons | Foto: Divulgação

Além do custo modesto e boas atuações, Vingança se destaca por ser um filme que explora um gênero pouco difundido no cinema nacional, o suspense em seu estado puro, onde não há espaços para debates socio-políticos ou para comédia.

É a história de um homem que busca um objetivo, e faz de tudo para cumpri-lo. Assim como o protagonista de seu filme, Pons é objetivo e deseja continuar filmando. O cineasta visa democratizar a produção de cinema nacional, tornando-a forte, moderna e auto-sustentável. O diretor deseja descentralizar a produção de cinema no país, em um momento que as novas tecnologias facilitam o processo de produção cinematográfico.

- As novas tecnologias nos ajudam na busca de uma boa parte dessas metas, mas é preciso, sobretudo, que as pessoas que fazem cinema no Brasil mudem sua forma de pensar a realização cinematográfica. Cada filme hoje é feito com objetivos individuais, mas é preciso lembrar que cinema é coletivo de filmes somado ainda a outros atores fundamentais, como público interno pagante e reconhecimento internacional. Já passamos a fase da retomada, o setor da produção, no qual eu me incluo, não precisa mais de prioridade na atenção dos agentes públicos. Vamos lançar Vingança em poucas salas, em cidades que estão abarrotadas de filmes em oferta a cada sexta-feira. É preciso com urgência ampliar e descentralizar a exibição dos filmes no Brasil. Ou tudo o que se conquistou nos últimos anos vai se voltar contra nós em muito menos tempo do que se levou para atingirmos esta atual (e parcial) estabilidade.

Para os próximos doze meses, Paulo anuncia o lançamento de quatro novos filmes através de sua produtora, a Pax Filmes, que terão orçamentos entre R$ 50 e R$ 250 mil, com uma produção se espelhando nos moldes de Vingança.

- Além disso, tenho hoje mesmo dois filmes em finalização, um que eu também dirigi e escrevi, chamado Espiral (com lançamento previsto para o primeiro semestre do ano que vem) e outro comandado pelo diretor de fotografia de Vingança, Thiago Lima Silva, que se chamará Os realizadores.

O tom dramático necessário a personagem de Bárbara foi captado pela atriz, que atua de maneira surpreendente, inclusive falando com um sotaque diferente de seu natural (ela nasceu na capital fluminense em 1979). Sobre sua estréia cinematográfica, a atriz contou que não teve dificuldades na transição entre dramaturgias diferentes e elogiou a produção em cinema, que dispõe de mais tempo em relação à televisão para trabalhar especificamente em cada cena. Bárbara contou que passou o mês anterior às filmagens por um processo intenso de ensaio e por sugestão do diretor Paulo Pons assistiu a filmes que dialogam com o universo da violência sexual.

- Um filme que me marcou muito foi Irreversível, estrelado por Monica Belucci - contou Bárbara (no filme francês, a atriz Monica Belucci protagoniza uma das cenas de estupro mais violentas do cinema, em que é brutalmente atacada em uma passagem subterrânea).

A experiência de trabalhar em Vingança estimulou a atriz a realizar novos projetos na área: em 2009 ela lança Casamento brasileiro, seu segundo longa-metragem do diretor Fauzi Mansur.