Ex-Hojerizah, Toni Platão agora é acústico e eclético

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Ricardo Schott e Marco Antonio Barbosa, Jornal do Brasil

RIO - Toni Platão surgiu na leva roqueira de meados dos anos 80, liderando a banda Hojerizah. Hoje, aposta num caminho bem diferente para seu quarto disco solo, Pros que estão em casa (EMI). Registro (em estúdio) de um repertório que Platão testou numa bem-sucedida série de shows na livraria carioca Letras & Expressões, o disco mostra o outrora cantor e compositor dando ênfase a seu lado de intérprete.

A seleção de músicas traz versões de Angela Ro Ro (Mares da Espanha e Amor meu grande amor), Beatles (Come together) e rock nacional (Carne e osso, dos Picassos Falsos, Louras geladas, do RPM, e a faixa-título, do próprio Hojerizah).

E também recriações de hits populares como Impossível acreditar que perdi você, de Marcio Greyck. Um DVD gêmeo do CD sai na segunda quinzena de novembro.

Cantor peca pelos exageros vocais

por Ricardo Schott

A linha que Toni Platão vem seguindo, de certa forma, fazia falta. É a do cantor romântico que caminha entre a MPB e a música popularesca, valorizando-a sem ganhar cara brega. Em Pros que estão em casa, o ex-vocalista do Hojerizah faz uma espécie de songbook dessa fase de sua carreira. Só peca por um detalhe crucial: para bancar o crooner, um cantor tem que ter voz amadurecida, sem excessos.

O vocal de Toni pertencia ao rock, gênero musical que nem sempre valoriza a voz. E o que parece gracioso no pop pode soar ingênuo num álbum mais próximo da MPB.

Curiosamente, a música em que mais se percebe isso é Tudo que vai, canção de Platão, Dado Villa-Lobos e Alvin L. estourada no Acústico MTV do Capital Inicial (2000) e que ganha vocais unindo Jerry Adriani, Elvis Presley e Renato Russo, com pouco brilho.

Vale citar que, se artistas como Agnaldo Timóteo e Wanderléia não tiveram sucesso ao tentar passar para a MPB, fazer um álbum de MPB com vocais bregas também não vale a pena, se a idéia é ser levado a sério.

O disco tem bons arranjos Carne e osso, dos Picassos Falsos, virou jazz; Pros que estão em casa, do Hojerizah, foi transformada em funk-rock acústico; Amor meu grande amor (Angela Ro Ro e Ana Terra) vai do tango a citações de Rebel rebel, de David Bowie.

O bom gosto imperou na escolha de hits populares como E não vou mais deixar você tão só (Antonio Marcos) e a tristonha O moço velho (Silvio César). Mas, já que Toni parece querer realmente virar intérprete, ainda faltam alguns ajustes importantes.

Salada variada, mas com personalidade

por Marco Antonio Barbosa

A ironia é inescapável. Depois de anos sendo apelidado (pelas costas e pela frente) de Cássia Eller (nem se parecem tanto assim, vai), Toni Platão renega sua trajetória autoral para virar... cantor eclético.

O presente disco leva para o estúdio o show que repaginou a carreira de Platão, revelado na facção pós-punk do rock carioca oitentista liderando o grupo Hojerizah, cujo único sucesso empresta o título ao álbum. O vocalista resolveu ir além do rock, incursionando pela MPB e pelos (gulp!) ditos sucessos populares . Chegou mesmo a emplacar a versão de Impossível acreditar que perdi você, de Márcio Greyck, na trilha de uma novela global.

Soa familiar? Não se trata, felizmente, de uma transformação à la Paulo Ricardo, que abraçou incondicionalmente a breguice. Platão, por sinal, regrava Louras geladas, sucesso do RPM, aqui com o freio de mão puxado.

Não ficou ruim, assim como soa bem Carne e osso (dos Picassos Falsos, contemporâneos do Hojerizah). Há um, digamos, conceito neste revisionismo, que aposta em arranjos acústicos para revelar nuances inusitadas nos covers (como na nova versão de Calígula Freejack, lançada pelo próprio Platão em 1998).

Junto à voz ainda em forma, temos enfim um crooner com (um pouco de) personalidade. Ainda que o tom canastrão do projeto seja flagrante (em especial na versão de E não vou mais deixar você tão só, hit de Roberto Carlos composto por Antonio Marcos).

E que Platão abra a guarda para mais uma piadinha ao gravar Nasci para chorar, uma das últimas gravações lançadas por... Cássia Eller, em 2001.