O Rappa é quase um clone irrelevante de si mesmo em novo CD
Marco Antonio Barbosa, Jornal do Brasil
RIO - Sabe aquela lenda segundo a qual Paul McCartney morreu em 1966 e foi substituído por um sósia, ativo até hoje? Pois é. Parece que O Rappa acabou em 2002, com a saída de Marcelo Yuka. Só que a banda segue, com quatro caras bem parecidos com Falcão, Lobato, Lauro e Xandão.
Ficaram os "na-na-na", as letras sobre a vida dura nascomunidadi, as (cada vez mais esquemáticas) fusões de reggae, funk e rock. Tudo parecido com a banda vigorosa de Rappa mundi (1996) e Lado B lado A (1999). Mas de um modo bem mais pálido. O ritmo lento de produção da banda nesta década, este é apenas o segundo álbum de inéditas pode ser reflexo da dificuldade de concatenar as idéias.
7 vezes adiciona outro capítulo pouco relevante à saga do Rappa pós-Yuka. A banda até investiu em timbres menos usuais, extraídos da miríade de instrumentos pilotados pelo baterista faz-tudo Lobato. Mas a falta de boas melodias e as letras de temática repetitiva (quando não desconexa) demonstram o beco sem saída no qual o quarteto se encalacrou.
O que sobra são idéias pequenas esticadas ao infinito (como no longo reggae Súplica cearense, versão do sucesso de Luiz Gonzaga), flashbacks (Farpa cortante, que ecoa Homem bomba, de 1996) e falta de imaginação (Monstro invisível é genérica, dos maneirismos vocais aos efeitos).
Afora isso, há aqui e ali demonstrações de fôlego maior, como na rarefeita e levemente psicodélica Documento e na levada com cheiro de samba em Maria. Um somatório que, ironicamente, pode ser descrito nos versos de abertura do disco: "Não vou dizer que tenho saldo sobrando/Não tô devendo, mas a vida de homem é assim mesmo".
