Revolta em enterro de mais uma vítima da PM

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Bruna Talarico, Jornal do Brasil

RIO - O enterro de Luiz Carlos Soares da Costa, baleado por PMs na noite de segunda-feira, em Bonsucesso, durante uma troca de tiros com policiais do 22º Batalhão da PM, foi marcado por forte comoção e revolta. Cerca de trezentas pessoas compareceram ao Cemitério do Caju, no fim da tarde de ontem, para prestar as últimas homenagens ao administrador de empresas de 36 anos, funcionário da empresa Infoglobo.

Na ocasião, amigos alegaram que Luiz Carlos era apenas mais uma vítima e pediram que o caso não caísse no esquecimento.

Emocionados, parentes entoaram canções religiosas, aplaudiram e pediram por justiça durante a despedida, referindo-se à vítima como um grande amigo e companheiro. Milton Francisco, um dos irmãos de Luiz Carlos, fez um discurso inflamado após o sepultamento.

Todos somos vítimas dessa violência. É criança, é velho, é todo mundo morrendo. lamentou Milton, que também agradeceu aos presentes pela mobilização em torno da morte do irmão.

Segundo Ednaldo Dias, outro irmão da vítima, Luiz Carlos era o caçula de doze irmãos e voltava da academia quando foi rendido por Jefferson dos Santos Leal, de 18 anos. Ednaldo contou que, ao ser abordada, a vítima falava ao telefone com a esposa, Simone Soares, e se dirigia à Abolição, onde morava.

Até quando isso vai continuar acontecendo? Meu tio não era bandido protestou, muito abalado, Valdemir Pereira, um dos sobrinhos de Luiz Carlos.

Lula, como era conhecido, havia terminado a pós-graduação em gerenciamento de projetos e era pastor da Igreja Assembléia de Deus da Terra da Promessa, na Cidade Universitária, há quatro anos. Simone Soares, servidora pública que há sete anos era casada com Luiz Carlos, teve que ser amparada para poder acompanhar o cortejo.

Revolta e dor

Parentes de Luiz Carlos mostraram revolta e indignação durante o enterro do administrador de empresas, ocorrido no fim da tarde de ontem, no Cemitério do Caju, Zona Portuária do Rio. Luiz Carlos foi atingido três vezes em uma troca de tiros entre PMs do 22º Batalhão da Polícia Militar e Jefferson dos Santos Leal, que sequestrou o veículo de Luiz Carlos e manteve o administrador como refém.

Quantos casos mais vão ter que acontecer para a gente aparelhar a nossa polícia e dar um apoio psicológico que seja, porque abordar dessa forma... Quantas pessoas vão ter que morrer para vermos realmente o que temos que fazer com a nossa polícia? reclamou Wanderley Pereira, um dos sobrinhos de Luiz Carlos.

Meu irmão estava no auge da vida, feliz. Acordava todos os dias satisfeito por estar crescendo profissionalmente, construindo sua família contou Ednaldo Dias, um dos irmãos de Luiz. Nós poderíamos perder o meu irmão para qualquer bandido. Mas é duro aceitar que ele teve a vida ceifada por aqueles que deveriam protegê-lo.