Músicos do Pará recriam obra prima do Pink Floyd

Por

Braulio Lorentz, JB Online

RIO - O Pink Floyd sempre foi a trilha sonora preferida de Fabrício Jomar e Luiz Félix, da banda paraense La Pupuña. Por causa do grupo inglês, brigaram e ficaram quatro anos sem se falar, e também por ele voltaram a trabalhar juntos. Eles são os pais de "The charque side of the moon", que reúne 15 nomes do pop do Pará relendo - nos ritmos típicos locais - o clássico "The dark side of the moon", do Pink Floyd, de 1973.

No disco, que pode ser obtido apenas na internet (em https://tiny.cc/Gfk72) o rock progressivo aparece com camisa florida e um drinque de cupuaçu numa das mãos. Quem inspira a dupla é a banda nova-iorquina Easy Star All Stars, que contou sua versão (reggae) dos fatos em "The dub side of the moon", de 2003. A apresentação da ópera "Ça-Ira" no Teatro Amazonas, em Manaus, em abril, com a presença de Roger Waters, é só coincidência.

- Estava brigado com o Fabrício justamente por causa de um CD do Pink Floyd, o disco dois do "Pulse", que ele me emprestou e eu quebrei - conta o guitarrista Félix.

- Lá se vão dois anos desde que tive a idéia. Nos shows do La Pupuña tocávamos versões de outras músicas do Pink Floyd, como "Shine on you crazy diamond" e "Have a cigar".

O lado mais caribenho do Pink Floyd é descoberto por meio de canções com pitadas de carimbó, guitarrada ("Money") e lundu marajoara ("Time"). Os registros que assustam mais os fãs de Pink Floyd são os que têm essência tecnobrega: "On the run" e "The great gig in the sky", com Gabi Amarantes, vocalista do Tecnoshow.

- Em conversas de bar contei sobre o disco. Aí me avisaram que já existia o 'Dub side'. O que vai ficar é a divulgação da cena musical paraense. Se não fosse o 'Charque side', não teríamos espaço para divulgar várias bandas daqui - explica Felix.

O 'Dark side' da terra do Calypso, grupo que não está no CD, não teve como objetivo virar a versão original de ponta cabeça. O nome mais conhecido é o de Fafá de Belém, que cede sua gargalhada a "Brain damage".

O sino característico no início de "Time" é o da Basílica da Nossa Senhora de Nazaré. E no começo do álbum, em vez do som de helicóptero, o que se ouve são ruídos de popopos (pequenos barcos a motor comuns na região).

- Nossa intenção nunca foi avacalhar o disco ou modificá-lo muito. Metade dos ouvintes gosta e a outra não gosta. Tem muito roqueiro xiita, né? - comenta Félix, adiantando que deve gravar um DVD do projeto no fim do ano e que turnês não estão na pauta.

- Lançar DVD ou CD pode ser difícil. Esbarramos nos direitos autorais. A gente ainda não sabe como vai ser - diz.

- 'Charque' rima com 'Dark' e ainda tem dois significados: um é a denominação da carne seca que a gente põe no feijão. E tem também uma gíria para a genitália feminina. Quando uma mulher passa na rua a gente fala: lá vai o charcão.

Líder da banda Engenheiros do Hawaii, Humberto Gessinger é fã de Pink Floyd e compara 'Charque side' com a Pop art, que se aproveita das imagens vinculadas nos meios de comunicação de massa.

- É como pintar um bigode na Mona Lisa. Como fã, acho bacana. Vejo como uma homenagem. O homenageado tem que ter muita riqueza, porque não é qualquer trabalho que se presta a isso não - compara.

O gaúcho afirma que projetos como o 'Dub' e 'Charque Side' têm muito mais graça para quem gosta de Pink Floyd e está familiarizado com o álbum original.

- O fã sempre quer ser o senhor absoluto do trabalho do artista. Já passei dessa fase. Compositor não tem o poder sobre suas músicas quando elas vão para a rua - resume Gessinger.