Ed Motta escolhe a dedo músicas de CD coletânea de Marku Ribas
JB Online
RIO - "Um jovem garoto de 62 anos" - como ele mesmo se define - está lançando um CD com as principais músicas de sua carreira. A coletânea "Zamba bem", um daqueles nobres trabalhos de resgate do que de melhor foi feito no Brasil e que não se tem mais acesso, teve as canções escolhidas a dedo por um entendedor do assunto, o cantor e musicólogo nas horas vagas Ed Motta.
Só isso já seria suficiente para garantir a relevância de Marku Ribas, mas sua contribuição para a história da música vão além, e garantem a ele a vaga no time dos 'malditos' frequentemenete injustiçados pelo mercado e de notoriedade muito menor do que merecem.
A primeira coisa que chama a atenção estando frente a frente com Marku - no show de lançamento do CD, nesta segunda-feira na loja Modern Sound, em Copacabana - é a sua humldade e simpatia. Num segundo momento, a conclusão é: um cantor de verdade! Como dizia a emblemática frase do Jumento nos Saltimbancos, de Chico Buarque, "hoje em dia todo mundo canta, como dizem aqueles que não sabem cantar!"
- Podemos criar muitas coisas nesta vida, além de filhos e problemas! Podemos criar palavras - divertia-se o músico no palco, sozinho com seu violão, mas sem deixar nada a desejar pela ausência de instrumentos de percussão. Seu swing impressionava o público.
- Ele é um dos primeiros a fazer scat singin' - lembrava Donatinho, filho de João Donato, e o primeiro a fazer uma participação especial no show, ao piano. Seu pai e o rapper B Negão também dariam suas 'canjas', prestando reverência ao mestre. Scat singin' é a técnica de cantar sem palavras, como se a voz fosse um instrumento solista. Daí vem as palavras 'inventadas' que o Marku se referia. Ed Motta bebeu nesssa fonte quando surgiu com o que chamou de 'edmottês'.
A música "Zamba bem", maior sucesso da carreira de Marku, é em scat singin'. Um fenômeno estourar, principalmente no Brasil, com uma música cantada sem letra! Só que Marku Ribas usa tão bem a técnica que chega-se a 'entender' o que ele canta!
A apresentação seguiu cheia de revelações, como quando conta ter sido o primeiro músico a colocar o músico Arthur Maia, hoje o maior contrabaixista do país, para gravar profissionalmente em estúdio. Além disso, foi Marku quem 'colocou na roda' o violonista Romero Lubambo e também foi ele quem cunhou o samba reggae na Bahia.
Marku Ribas já levou seu swing ao mundo. Morou anos em Paris, albergado na casa do recém falecido coreógrafo Maurice Déjart, abriu show de James Brown e garvou vídeo clipe com Mick Jagger, nesse caso atuando. Aliás, além de tudo o que realizou na música, Marku Ribas também é ator, e tem uma carreira com diversas participações, no Brasil e no exterior, em filmes como "Batismo de sangue", onde fez o papel do guerrilheiro Carlos Marighella.
Além do lançamento da coletânea "Zamba bem", o público vai ter a oportunidade de travar um contato maior com Marku em "Chega de saudade", filme de Laís Bodanzky, que vai estrear nos cinemas no dia 21 de março, mas que já faturou o Candango de Melhor Direção no Festival de Brasília 2007. No filme, Marku junta seus talentos, já que interpreta Vanderlei, justamente um cantor.
- Quando acontece de um músico parar o show para afinar seu instrumento - disse ele durante o show enquanto conferia as notas de seu violão - é em respeito à música. Se tem uma coisa que a música tem que ser é afinada!
Dito isso - ensinamentos para boa parte dos que pretendem a música como atividade - não deixe passar o contato com a música afinada e muito bem afiada de Marku Ribas, e também com sua arte nas telas, figura humana de obra artística sensível e relevante.
