Jack White relança estreia de Caetano
Gravadora do guitarrista faz edição americana inédita, em vinil, de primeiro álbum solo do tropicalista
Depois de 51 anos, uma boa ideia. Lançado originalmente em 1968, o primeiro álbum solo de Caetano Veloso ganhará uma reedição americana em vinil, através da gravadora Third Man Records, de Jack White. O cantor e guitarrista, líder de de grupos como White Stripes, The Raconteurs e Dead Weather, liberou na sexta-feira a primeira prensagem oficial do disco nos Estados Unidos, disponível nas lojas da gravadora, em Detroit e Nashville, Pré-vendas antecipadas online também podem ser feitas, através do site https://thirdmanrecords.com, por US$ 25 (cerca de R$ 100, na cotação atual). As lojas físicas terão prensagens exclusivas em vinil colorido.
"Continuando a expandir nosso catálogo de reedições de discos seminais, a Third man records está extremamente orgulhosa de apresentar a primeira prensagem americana autorizada em vinil do primeiro do icônico álbum de estreia do artista brasileiro Caetano Veloso", declarou a gravadora no anúncio de lançamento.
A edição americana do disco foi remasterizada da mixagem original (em mono) pelos músicos e produtores Warren Defever e Bill Skibbe, em Detroit, nos estúdios da Third Man - que, entre outros artistas, já lançou discos de Alabama Shakes, Beck, Carl Sagan e Tom Jones, além do próprio Jack White, em carreira solo e com suas bandas.
Gravado em 1967 e lançado em 1968, pela Philips, o disco foi o primeiro álbum solo de Caetano, embora ele já tivesse lançado "Domingo", em dupla com Gal Costa. Nomeado simplesmente "Caetano Veloso", ele traz na capa um retrato do cantor entre desenhos tropicalistas, como folhas, frutas, uma cobra e um dragão, além de uma bela ruiva, que segura a moldura - seria uma referências às "Cardinales bonitas", com que ele cita a atriz italiana Claudia Cardinale, em "Alegria, Alegria"?
Classificada em 4º lugar no Festival de Música Popular Brasileira de 1967, organizado pela TV Record, "Alegria, Alegria" já era um sucesso quando o álbum foi lançado, com seu arranjo influenciado pela fase psicodélica dos Beatles e sua letra cheias de linguagem e ícones, da Coca-Cola à própria televisão, na época.
Outra canção emblemática do álbum, "Tropicália" se destaca por mais citações à cultura popular e (então) contemporânea, de Carmen Miranda ao programa televisivo "O fino da bossa", além do certeiro acompanhamento orquestrado, fruto de maestros como Rogério Duprat, produtor do disco, e Júlio Medaglia, que participou dos arranjos do álbum. Curiosamente, ela não foi incluída no álbum coletivo "Tropicália ou Panis et Circenses", espécie de manifesto fonográfico do movimento, gravado junto com Tom Zé, Mutantes e outros.
Caetano assina sozinho seis das 12 faixas do álbum, que também tem parcerias dele com Gilberto Gil ("Eles" e "No dia em que eu vim-me embora", que conta sua partida da cidade-natal Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, para Salvador), Rogério Duarte ("Anunciação" - sem relação com a homônima que Alceu Valença faria 15 anos depois), Capinam ("Clarice") e Ferreira Gullar (a romântica "Onde Andarás?", que mescla a suavidade da bossa com a ênfase vocal ao estilo Vicente Celestino), além da rumba "Soy loco por ti, America", escrita em espanhol por Capinam, Gil e Torquato Neto.
Gal Costa faz uma participação vocal em "Clara", outra faixa escrita só por Caetano. As demais são 'Ave Maria" e a dobradinha "Superbacana" e "Paisagem Útil" - as duas primeiras faixas do lado B, o qual abrem com impacto e a variedade que marca o trabalho.
Em menos de um minuto e meio, a agitada e pop "Superbacana" acelera de uma marcha quase rock para algo que lembra um ska, citando da "legião dos super-heróis" à "moeda nº 1 do Tio Patinhas". Na sequência, com sua referência inversa a "Inútil Paisagem", de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, "Paisagem Útil" retoma os arranjos para orquestra, que ambientam os "olhos abertos em vento / sobre o espaço do Aterro / sobre o espaço sobre o mar / o mar vai longe do Flamengo", traduzindo em letra a revolução urbanística então recém-vivida com a construção do Parque do Flamengo, inaugurado em 1965.
Um álbum que hoje, passado mais de meio século, expõe, em palavras e sons, aquele momento de alta criatividade e variedade artística.
