Crítica - Crimes obscuros: Um thriller arrebatador
**** (muito bom)
Herdeiro tardio e indireto de "Seven - Os sete crimes capitais" (1995), pontuado por um clima de perversão tão perturbador quanto o do cult de David Fincher, "Crimes obscuros" é uma produção anglo-polonesa de 3,8 milhões, lançada no Festival de Varsóvia de 2016, que teve um status autoral em seu berço, pela assinatura do diretor grego Alexnadros Avranas (de "Miss violence"), e recebeu holofotes por deslocar (o gênio) Jim Carrey das veredas do humor. Quem suspirou com "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" (2004) sabe como Carrey é capaz de transcender. Aqui, em "Dark crimes", guiado por expert na brutalidade como Avranas, sua transcendência passa por um lugar íntimo, de insanidade e fúria contida, que se desenha nas telas a partir de uma narrativas de ecos expressionistas, cuja vítrea fotografia (assinada pelo ás polonês Michal Englert, de "Body") amplia a sensação de horror anunciado.
Carrey dá alma ao policial Tadek, fossa afetiva em forma de homem da lei. Seu mundo de contenção e vazio será sacudido pela investigação de um delito que parece ter sido prenunciado no romance de um autor chamado Koslov (Marton Csokas), principal suspeito do caso. Mas é a namorada dele, a enigmática Kasia (Charlotte Gainsbourg, sempre afinada), é que pode ser o motor do Mal. Cabe a Tadek confiar mais em sua racionalidade do que em seu desejo nesta trama sobre o risco da contenção, seja de emoções, seja de poder, incluindo aí o poder do justiçamento. Na base deste instigante longa está um artigo "True crimes - A postmodern murder mystery", de David Grann, que Avranas converteu em ensaio sobre incontinências - e, entre elas, está a ferocidade cênica de Carrey.
*Roteirista e crítico de cinema
