Meio Dean Martin, quase Jerry Lewis: confira a crítica de 'O Galã'

Por Rodrigo Fonseca *

Fiuk e Thiago Fragoso em cena de "O galã", de Francisco Ramalho Jr.

Autor de piadas para os Irmãos Marx e Lucille Ball, animador e realizador de filmes que refinaram o humor de Jerry Lewis na telona, Frank Tashlin (1913-1972) deu à comédia hollywoodiana dos anos 1950 uma excelência singular (mas ainda pouco reconhecida) pra lidar com as inaptidões inerentes à timidez. Tipos tímidos brotam de seus clássicos do riso como "Artistas e modelos" (1955), num esforço de dar ao filão cômico uma dimensão de crônica de costumes. Poucos diretores - nos EUA, só Peyton Reed, de "Sim, senhor" - foram pelas vias de Tashlin, mas, no Brasil, o vaudeville "O galã" tem aroma tashliniano, graças à cultura cinéfila de seu diretor, Francisco Ramalho Jr. (de "O cortiço). Um estudioso dos engasgos morais que levam o amor ao boicote, como se viu em sua obra-prima, "À flor da pele" (1977), ele se debruça aqui sobre veredas da gargalhada, com base na peça "Meio irmão", de Emílio Boechat. Faz com ela algo similar ao que Tashlin criou no doce "Em busca de um homem" (1957): uma investigação sobre os afetos no universo audiovisual. Thiago Fragoso é seu Dean Martin: ele vive Júlio, um ator à cata de sucesso que busca um papel numa novela em meio à reinvenção de suas emoções. Já Luiz Henrique Nogueira (impecável em cena) é o lado Lewis deste quiprocó: ele vive Beto, o autor do folhetim em que Júlio, seu mano mais moço, deseja atuar. Entre peripécias por amor, vaidade e rivalidade com um astro jovem (Fiuk), Júlio e Beto revisam desavenças e afinidades numa montagem (de Manga Campion) que nunca deixa o ritmo escorregar e disfarça diálogos menos inspirados. É comédia à moda antiga... à moda Tashlin.

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O GALÃ: *** (Bom)

Cotações: o Péssimo; * Ruim; ** Regular; *** Bom; **** Muito Bom