Apadrinhada por nomes-referência da Bossa Nova, produtora Amanda Bravo lança primeiro CD

Por Affonso Nunes

Amanda no bairro que foi berço da Bossa Nova

Produtora e diretora artística do Beco das Garrafas, a cantora Amanda Bravo apresenta hoje, às 21h, na Sala Baden Powell, o show de lançamento de seu CD de estreia, “Bossa do Beco”. O trabalho é fruto de três anos de seguidas apresentações que ela fez na casa onde nasceu o gênero que cultua há anos e anos, ou seja, um show que foi parar no estúdio. “De repente, me vi cantora. Tudo começou de forma bem despretensiosa, quando, ainda menina, arranhava o violão do meu pai. A brincadeira foi aumentando à medida que ia entrando em contato com aquela atmosfera criativa, aquele tempo passado no estúdio, a interação com outros músicos”, conta Amanda, referindo-se ao violonista Durval Ferreira (1935/2007).

Autor de sucessos do gênero como “Estamos aí”, “Batida diferente” e “Tristeza de nós dois”, Durval acompanhou a cantora Leny Andrade, tocou no conjunto de Ed Lincoln, esteve com Sérgio Mendes no show do Carneggie Hall, em 1962, e apresentou-se com o saxofonista americano Cannonball Adderley. Nos últimos 30 anos de vida, dedicava-se à produção de discos comerciais. Foi o responsável por lançar no mercado nomes como os de Emílio Santiago, Joanna e Sandra de Sá.

Padrinhos ilustres

A familiaridade com a batida que revolucionou a música nos anos 1950 levou essa cantora temporã a ser apadrinhada em seu primeiro trabalho por nomes como Roberto Menescal, João Donato, Marcos Valle e Bebeto Castilho, do Tamba Trio. “O CD está uma coisa. Amanda tem uma voz bem bossanovinha”, elogia Donato.

No palco, Amanda estará escoltada por um time de músicos experientes: Zé Luiz Maia (baixo e direção musical), César Ferreira (violão), Luiz Otávio (piano) e Rubinho Moreira (bateria). O grupo apresentará as 11 faixas do CD e também prestará um merecido tributo a artistas que fizeram história na MPB, tais como Jorge Ben Jor, Dolores Durán, Billy Blanco, Elis Regina, Sergio Mendes. Em comum, todos passaram pelo palco do Beco das Garrafas.

A “insanidade” de lançar um álbum físico em pleno apogeu da veiculação de músicas nas plataformas digitais tem uma explicação. “Boa parte dos frequentadores do Beco é formada por turistas e sempre existiu o interesse deles de levar uma lembrança da experiência que tiveram, um registro dos músicos que lá se apresentam”, argumenta Amanda, que toca com a banda toda sexta-feira no local, que apresenta hoje, em média, cerca de 90 shows por mês.

A ideia do CD, revela a cantora, partiu de Zé Luis Maia, filho do lendário baixista Luizão Maia e ganhou uma dimensão que surpreendeu a própria Amanda. “Pensávamos em gravar num estúdio caseiro sem grandes pretensões, mas surgiu a possibilidade de gravar num estúdio totalmente analógico (Castelo Studio, em Niterói), onde meu pai sempre gravou, e foi possível reconstituir uma sonoridade típica dos álbuns dos anos setenta. Um som maravilhoso”, conta.

Um detalhe curioso é a embalagem do CD, com dimensões de uma capa de compacto em vinil. “Esse formato retrô permitiu que pudéssemos produzir um encarte maior, que as pessoas conseguem ler”, diz, elogiando a arte concebida pelo designer e músico Haroldo Cazes.

Para abençoar esse primeiro álbum, Amanda conseguiu a participação especial de Roberto Menescal em “Barquinho”: “Ele colocou um violão lindo”, comemora. Bebeto Castilho toca flauta em “Os grilos”, parceria dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle.

Tecnologia e reencontro

Mas nesse álbum de afetos, a participação especial mais tocante acabou sendo os registros de gravações antigas de Durval Ferreira resgatadas para as canções “E nada mais” e “Chega de saudade”. “Foi um encontro emocionante que a tecnologia permitiu. Durante a fase de mixagem do álbum, o Luigi Hoffer sempre repetia que sentia a presença do meu pai no estúdio”, emociona-se.

Todos esse detalhes, destaca a cantora, foram levantando o disco. “Conseguimos trazer o astral bom do carioca, do amor, do sorriso, da flor. Ao contrário do que muitos dizem, a Bossa Nova não passou e o disco e o show estão aqui exatamente para mostrar isso. Estou muito orgulhosa dele. E foram muitas mãos que se deram para abraçar este projeto”, agradece.

Mesmo feliz com o resultado do trabalho, Amanda faz questão de não abrir mão do senso crítico. “Até pela minha trajetória como produtora, sou muita exigente. Meu pai também era assim, tanto que levou 50 anos para gravar um disco, o único trabalho solo dele”, compara.

Além de clássicos como “Você e eu”, “Saudade fez um samba” e “A rã”, o CD apresenta a inédita “Outro abraço no Donato”, uma tema instrumental de seu pai que recebeu letra de Lysias Ênio, irmão de João Donato. “Peguei esta melodia do meu pai (morto em 2007) e pedi ao Lysias uma letra que mostrasse a relação dele com o João. Saiu uma letra muito carinhosa e sentimental”, conta ela.

Ainda na safra de novas composições, estão “Asa delta”, parceria de Baden Powell com o filho Phillipe Baden Powell e Lula Freire. “I love you” e “Samba novo”, ambas de Durval Ferreira, e “Batuque”, “um sambinha Bossa Nova do Lysias” ganham novas roupagens e mais frescor, tanto nos arranjos como na voz limpa e bem carioca desta garota de Copacabana.

Serviço

AMANDA BRAVO

SHOW DE LANÇAMENTO DO CD “BOSSA DO BECO”

Sala Baden Powell (Av. N. S. de Copacabana, 360 – teL: 2547-9147) Hoje – 21h – Ingressos: R$ 60 e R$ 30,00