Exposições lembraram nascimentos e mortes de artistas, de Basquiat a Athos Bulcão, além da criação da Bossa Nova e questões políticas

Por João Pequeno

Cesar Vilela falou no Espaço BNDES sobre as capas que fez para a gravadora Elenco

Resgates de momentos musicais, políticos e de efemérides da vida e da carreira de artistas marcaram o ano de 2018 no circuito das artes visuais no Rio de Janeiro. A principal exposição exposta na cidade seguiu esse padrão, nos 30 anos da morte de Jean-Michel Basquiat, que ganhou mostra inédita no CCBB. Vai até o dia 7 de janeiro a exposição “Obras da coleção Mugrabi”, que reúne mais de 80 criações do novaiorquino filho de caribenhos que se tornou a sensação do mercado de artes com uma rapidez incrível. Morto precocemente em 1988, aos 27 anos, de overdose, Basquiat deixou 1,5 mil trabalhos prontos, que ainda assim foram praticamente todos vendidos, como ressalta o holandês Pieter Tjabbes, curador da mostra. A alta procura o levou a ter, em 2017, uma tela vendida por US$ 110 milhões, tornando-se a obra de arte americana mais cara da história.

Essa procura também levou Basquiat a ter poucas obras em museus. Para montar a exposição, o CCBB recorreu a uma coleção particular. Os espaços da mostra dividem não apenas fases, mas referências do pintor, muito influenciado por música e TV – mais especificamente jazz e desenhos animados –, além da anatomia, inspirado pelo clássico livro médico “Gray’s Anatomy”, escrito no século 19 pelo inglês Henry Gray.

Motivadas pela música, exposições lembraram a Bossa Nova e o samba. A mais destacada foi “Bossa 60, Passo a Compasso”, montada no Espaço BNDES em homenagem às seis décadas do movimento musical. Em um corredor com fotos, partituras e capas de discos – em especial, da icônica gravadora Elenco, com seu inconfundível padrão visual criado por Cesar Vilela – , instalações sonoras também contaram a história cujo Marco Zero se situa na gravação de João Gilberto parac “Chega de Saudade”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Mas a curadoria do crítico musical Tárik de Souza também contemplou variações, como os afrossambas de Baden Powell, e a pré-Bossa, de artistas como Billy Blanco e Dick Farney.

Com obras de Candido Portinari, Di Cavalcanti, Heitor dos Prazeres, Guignard, Ivan Morais, Pierre Verger e Abdias do Nascimento, “O Rio do Samba: Resistência e Reinvenção” está desde meados do ano no MAR (Museu de Arte do Rio), onde ainda fica em cartaz até 10 de março de 2019.

Também há gravuras de Debret e Lasar Segall, parangolés de Helio Oiticica, uma instalação de Carlos Vergara e fotografias de Marcel Gautherot, Walter Firmo, Evandro Teixeira, Bruno Veiga e Wilton Montenegro, sobre o gênero musical mais difundido do Brasil, no museu da Praça Mauá, pertinho de um de seus berços, a Pedra do Sal. 

Entre polêmicas e tributos oportunos

Do batuque à polêmica, o MAR teve vetada a exposição “Queermuseum”, que acabou abrigada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde, após alguns protestos de grupos religiosos, foi exposta sem problema, atraindo 40 mil visitantes, segundo a EAV.

O MAR abrigou, no entanto, “Arte democracia utopia”, que combinou trabalhos de artistas consagrados como Cildo Meireles, Hélio Oiticica, Anna Maria Maiolino e Claudia Andujar com ações de grupos comunitários, sempre com temática política. Já a Caixa Cultural recebeu “Uma Revolução de Imagens nos Anos 1960”, com imagens do extinto jornal “Correio da Manhã” durante a ditadura militar, como passeatas contra a censura e fechamento do Congresso em 1966. Essas duas exposições seguem em cartaz em 2019.

Também permanece, até 28 de janeiro, “100 Anos de Athos Bulcão”, no CCBB. Celebrando o centenário de nascimento do artista, morto em 2008, mostra mais de 300 obras, de sua inspiração inicial pela azulejaria portuguesa ao aprendizado sobre as cores, de quando foi assistente de Candido Portinari.

Aos 90 anos, Flávio-Shiró foi homenageado em vida na Pinakotheke Cultural. As nove décadas do japonês radicado no Brasil – hoje, morando na França – foram perfiladas em quadros com forte inspiração em assustadoras lendas de seu país natal.

A mesma Pinakotheke expôs “Victor Brecheret (1894 – 1955)”, com obras do artista nascido na Itália e radicado no Brasil, onde se tornou um dos expoentes do modernismo, e integrante da Semana de Arte Moderna, em 1922.

Antonio Dias, que se foi em 2018, aos 74 anos, vítima de câncer, ganhou no MAM a retrospectiva “ O ilusionista”. Com 58 obras do paraibano pertencentes ao acervo do museu, a mostra vai até 6 de janeiro. Tunga, por sua vez, teve sua primeira individual no Rio após sua morte, em 2016, no MAR. “O rigor da distração” reuniu mais de 200 obras criadas entre 1975 e 2015 e a relação entre desenhos, esculturas, fotografias, vídeos e performances.

Outro italiano radicado no Brasil, Alfredo Volpi (1896-1988) foi lembrado nos 30 anos de sua morte pela Galeria de Arte Ipanema, com a qual teve íntima. A primeira obra adquirida pela galeria, ao ser inaugurada, em 1965, foi dele, amigo de Luiz Séve, dono do espaço. O curador Paulo Venancio Filho relacionou aspectos da obra do italiano com da gaúcha Ione Saldanha (1919-2001), na mostra “Alfredo Volpi e Ione Saldanha: o frescor da luminosidade”.