Mineiro Antônio Sérgio Moreira leva Cabeças à Galeria Pretos Novos

Por Affonso Nunes

Exposição é composta por mais de 200 obras do artista, inéditas em sua maioria. Apresenta objetos, telas e papéis

Em visita à construtora de uma amiga em 2016, o artista plástico mineiro Antônio Sérgio Moreira deparou-se com uma pilha com cerca de cem capacetes de trabalhadores que estavam para ser descartados. Onde muitas pessoas enxergam apenas lixo ou entulho, pode existir um novo conceito criativo. As peças ganharam pinturas personalizadas remetendo à estética das máscaras (persona). Esses equipamentos ocupam lugar especial na exposição “Cabeças”, que será aberta no próximo sábado na Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, na Gamboa.

De posse dos capacetes, o artista percebeu que eles estavam divididos por diferentes cores que denotavam os diferentes níveis de acesso que cada trabalhador tinha no canteiro de obras, o que não deixa de ser uma poderosa analogia em relação aos códigos vigentes de sociedades excludentes em que a cor do indivíduo pode insinuar códigos de acesso e conduta. E dentro dessa estratificação, é que Antônio Sérgio trabalha um conceito de individualidade que se contrapõe à igualdade em cada um desses grupamentos de cor.

E as cores são as características marcantes da exposição que possuí outras duas séries. Em Têtes (cabeças, em francês), Antonio Sérgio apresenta sua visão de como os afro-ameríndios leem a si mesmos, e como os outros afros se leem. “As diferentes expressões de cada uma dessas cabeças mostram como podemos ser estranhos um para o outro”, especula o artista, para quem a inserção na religiosidade nagô o fez refletir mais sobre o valor da cabeça no âmbito da ancestralidade. “O ori (cabeça em Iorubá) é mais importante do que a própria divindade ancestral”, argumenta, lembrando que, na criação do mundo, segundo a mitologia africana, a ori se divide e passa a existir em dois planos: o terreno e o sagrado. A ori só volta a reunir suas duas partes na morte.

Na séria Ensaque, o artista produz instalações coloridas tendo como matéria-prima sacos de cimento, outra inspiração trazida do canteiro de obras, que são pintados. “Trata-se de um trabalho visualmente impactante, de cores fortes, e quando o público se aproxima da instalação, e percebe do que ela é feita, a experiência torna-se ainda mais interessante”, afirma o curador da exposição, Marco Antônio Teobaldo, acrescentando que, em seu conjunto, a exposição composta por mais de 200 obras inéditas de Antonio Sérgio - dentre objetos, telas e papéis – tece uma trama sobre a memória do indivíduo negro e de seus antepassados.

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SERVIÇO

CABEÇAS – INDIVIDUAL DE SÉRGIO ANTONIO MOREIRA Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea (Rua Pedro Ernesto, 32 – Gamboa; Tel: 2516-7089)

Abertura: 8/12, às 10h - Visitação: 11/12 a 9/2 – Ter. a sex., das 13h às 19h; sáb., das 10h às 14h. Entrada franca